Paulo José Assumpção dos Santos

DESAFIOS DO ENSINO DE HISTÓRIA PARA ALUNOS SURDOS EM CLASSES INCLUSIVAS


Em sua última edição, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve como tema de redação os “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. De acordo com os dados a respeito dos resultados da prova, informados pelo Ministério da Educação (MEC), houve menos notas máximas na comparação com a edição anterior do exame. Além disso, 6,5% dos candidatos receberam nota zero em suas redações, sendo que, destes, 5,01% fugiram do tema proposto, um aumento de 542% em relação ao Enem de 2016 (LUIZ, 2018). Revelando assim, não sem surpresa, o quanto a temática proposta ainda não é devidamente debatida em nossas escolas e na sociedade, de um modo geral. Se, por um lado, os organizadores da prova exigiram de seus candidatos algo que estava além de seu repertório argumentativo, por outro, tiveram o mérito de colocar a educação de surdos em pauta. Considerando o atual contexto educacional inclusivo no Brasil, estabelecido e amparado por uma série de leis e políticas públicas, como a Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, e o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2014, o professor não pode deixar de se apropriar desta questão.

Os desafios de ensinar História para alunos surdos incluídos, ou seja, inseridos em um grupo formado majoritariamente por alunos ouvintes, são muitos e diversos problemas se impõem. A começar pela formação docente deficitária, marcada pelo predomínio de disciplinas a respeito de conteúdos teóricos e factuais específicos da área de conhecimento e pela ausência de matérias voltadas para a Educação Especial, campo no qual se inserem os estudos relacionados à educação de surdos. Somente nos últimos anos, por força do Decreto n.º 5.626, de 2005, o ensino de Libras (Língua Brasileira de Sinais) foi incluído na grade curricular dos cursos de licenciatura. Um avanço importante, mas insuficiente. Se conhecer a História não basta para ensiná-la (CAIMI, 2015), ter o conhecimento de Libras e de História também não garante que o professor está apto a ensinar História para alunos surdos. Ele precisa de uma formação que o instrumentalize com conhecimentos teórico-metodológicos relacionados à surdez. Algo que as licenciaturas ainda deixam a desejar. Desta forma, indagamos: como ensinamos História para os surdos sem um conhecimento prévio a respeito de suas peculiaridades e das abordagens didáticas mais adequadas a serem utilizadas no trabalho com eles?

As pesquisas acadêmico-científicas, que poderiam oferecer suporte aos professores que atuam com alunos surdos em classes inclusivas, ainda são incipientes. Em levantamento realizado para nossa dissertação, identificamos a existência de apenas quatorze textos, entre artigos, comunicações, monografias e dissertações, que versam especificamente sobre esta temática. Ademais, os dados parecem indicar que a questão surda está distante das preocupações que mobilizam as produções acadêmicas na área de História, posto que, até o momento, dispomos de somente uma monografia, duas dissertações (tendo estas últimas sido defendidas recentemente) e nenhuma tese. Também chama a atenção o fato de que, dentre os dez autores aos quais tivemos acesso a seus currículos, só três deles prosseguem estudando o tema aqui abordado. E não se trata de esgotamento do assunto, uma vez que os próprios textos apontam para diversas questões que necessitam ser aprofundadas ou exploradas em futuras pesquisas (PEREIRA; POKER, 2012; AZEVEDO; MATTOS, 2017).

Nossa experiência em uma escola inclusiva e os relatos dos pesquisadores (UGRINOWITSCH, 2003; YOKOYAMA, 2005; PEREIRA; POKER, 2012; PADOVANI NETTO, 2017) revelam ainda que, definitivamente, o professor de História não fala a mesma língua que o seu aluno surdo. Em um primeiro sentido, mais óbvio e literal, a maioria dos docentes não faz uso de Libras, seja por não a dominar, seja pela dificuldade (quase impossibilidade) de lecionar em duas línguas de modo concomitante. Considerando que o ensino para alunos surdos deve ser feito em língua de sinais, faz-se então imprescindível a assistência de um intérprete de Libras. Esse profissional tem a função de traduzir o conteúdo acadêmico e intermediar a relação professor-aluno surdo. Porém, tal mediação comumente vem acompanhada por uma série de problemas e tensões, dentre os quais a sensação de incômodo que a presença de um outro profissional na sala de aula pode suscitar ao professor regente e a confusão de papéis em sala de aula (o intérprete visto como professor dos alunos surdos, tanto por esses como pelo próprio regente). Isso considerando que haja intérprete, pois ainda se verificam dificuldades quanto à sua contratação por gestores e secretarias de educação, como ocorre na cidade do Rio de Janeiro (RJ1, 2017). Neste caso, para angústia ou desprezo do professor, seus alunos surdos são condenados a uma situação de invisibilidade (KELMAN; BUZAR, 2012), diante de uma aula ministrada por uma boca que apenas se mexe.

Aqui encontramos o outro sentido para a colocação supracitada. O professor de História também deixa de “falar a língua” dos seus alunos surdos quando mantém, a despeito da presença desses sujeitos, práticas pedagógicas tradicionais, ensinando fundamentalmente por meio de narrativas orais e com o suporte de textos escritos, via de regra, contidos nos livros didáticos, o que Yokoyama denomina “comportamento teórico-metodológico oral auditivo” (2005). Se nas últimas décadas a disciplina História, enquanto pesquisa, incorporou novos métodos e objetos, incluindo cada vez mais o estudo de grupos sociais marginalizados, esta mesma abertura pouco se verifica em relação à História ensinada em nossas escolas. Neste sentido, Verri e Alegro afirmam que a historiografia quer incluir, mas o ensino de História não sabe incluir (2006). Ainda estamos presos a um modelo de ensino apoiado na oralidade, com conteúdos nem sempre significativos e abordagens que são pouco eficientes ou reverberam na nova geração de alunos (SANCHES, 2007).

Dada ainda a dificuldade dos surdos em relação ao Português, considerada sua segunda língua (OLIVEIRA, 2012), as aulas nas quais os conteúdos são expostos exclusivamente de forma oral tornam-se de difícil (ou mesmo impossível) compreensão e um verdadeiro fardo. Uma vez que os alunos ouvintes também, por vezes, parecem “surdos” às nossas aulas, nos parece urgente superarmos o padrão arcaico de ensino de História. Talvez o trabalho com os surdos possa até nos apontar caminhos mais inovadores para o nosso ofício, uma vez que requer que o processo ensino-aprendizagem se dê mobilizando diferentes sentidos e sensibilidades.

Empregar estratégias, recursos e avaliações diferenciadas, notadamente as que envolvem o uso de Libras e de imagens, planejadas a partir do conhecimento das especificidades dos sujeitos surdos, são fundamentais para que o trabalho do professor com esses discentes seja bem-sucedido. Aliás, também ganham os demais alunos, como comprovam diversos estudos (GUIJARO, 2005; KELMAN, 2011; SANCHES, 2017), uma vez que o acesso ao conhecimento se torna mais facilitado – não no sentido de complacência, é importante frisar. No entanto, o docente precisa ser extremamente cuidadoso ao lançar mão de ações e materiais pedagógicos singularizados. Sequer deve considerar que por si só garantem a aprendizagem. Encher a sala de aula de imagens ao invés de levar à aquisição de conhecimentos pode resultar em uma espécie de cacofonia visual para o surdo, como exemplifica Yokoyama (2005).

Acima de tudo, seja de que modo for, os conteúdos ensinados aos alunos surdos precisam ser significativos (VERRI; ALEGRO, 2006), se relacionando com suas vivências e possibilidades de ação presentes e futuras. Conexão esta que é uma das molas-mestras do mister do professor de História, mas que se faz ainda mais urgente em relação aos discentes surdos, por ainda estarem estes em condições de exclusão social, mesmo com as políticas públicas e avanços em termos de acessibilidade verificados nos últimos anos. Assim, tornar mais acessível e significativo o ensino de História pode concorrer na elaboração de uma consciência histórica dos surdos, implicando no pleno exercício de sua cidadania.

Neste sentido, por que não pensarmos na possibilidade de inclusão da presença surda nos conteúdos factuais da disciplina História? Quando observarmos o currículo de História, tanto aqueles contidos nos livros didáticos quanto os elencados pelas redes de ensino, facilmente detectamos a ausência dos surdos. Acreditamos que incluir os surdos no estudo da trajetória humana, suas dores e suas lutas, os grandes personagens e os anônimos, as diferentes formas com as quais foram vistos e tratados, poderia ser um importante contributo para tornar o ensino de História mais atrativo para o aluno surdo, além de favorecer a valorização deste grupo, tanto para si como para os outros, elevando a autoestima desses sujeitos. Ao identificar o protagonismo surdo na História, os alunos ouvintes teriam assim a oportunidade de perceber seus colegas por um outro viés, que não o da deficiência. Se enalteceria a alteridade e o ensino da História cumpriria o seu papel de, como processo formativo, mudar as pessoas (VERRI; ALEGRO, 2006). Porém, como fazer tal inclusão? Por força de lei, similar à n.º 11.645, de 2008, que tornou obrigatório o ensino de história afro-brasileira e indígena? Seria válida somente para turmas ou escolas com alunos surdos? Há fontes significativas disponíveis? E como incluir mais uma minoria sem sobrecarregar um currículo já inflacionado?

Não temos aqui o propósito de esgotar o assunto e oferecer respostas a todas as questões levantadas. Tampouco a intenção de intimidar aqueles que venham a lecionar para alunos surdos. Nossa proposta foi desvelar entraves que cercam o ensino de História direcionado àqueles discentes incluídos em classes regulares a fim de que, enquanto desafios, possam ser devidamente enfrentados. Enfrentamentos que não cabem somente aos professores. Os cursos universitários, particularmente de História, precisam incentivar pesquisas e incluir em suas grades curriculares disciplinas voltadas a discussões teórico-metodológicas a respeito do ensino para sujeitos surdos. Gestores das escolas e redes de ensino devem propiciar tempo e espaços para a formação continuada de seus profissionais, bem como investir em recursos materiais e humanos que possibilitem a inclusão escolar com a qualidade que lhe é implícita. De nossa parte, precisamos ser sensíveis aos nossos alunos surdos, nos apropriando das questões referentes à surdez, realizando as adaptações necessárias ao fazer docente que a presença surda exige e compartilhando aquelas já feitas. O desafio está posto. Vamos encarar?

Referências
Paulo José Assumpção dos Santos é professor de História da rede municipal de ensino de Duque de Caxias, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGEH/UFRJ) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Sobre Surdez (GEPeSS/UFRJ).

AZEVEDO, Patrícia Bastos de; MATTOS, Camila Oliveira. Ensino de história para alunos surdos: a construção de conhecimento histórico a partir de sequências didáticas. Revista Per Cursos, Florianópolis, v. 18, n. 38, p. 112-133, set./dez. 2017.

CAIMI, Flávia Eloisa. O que precisa saber um professor de História?, História & Ensino, Londrina, v. 21, n. 2, p. 105-124, jul./dez. 2015.

GUIJARRO, Maria Rosa Blanco. Inclusão: um desafio para os sistemas educacionais. In: BRASIL. Ministério da Educação. Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília: MEC/SEESP, 2005, p. 7-14.

KELMAN, Celeste Azulay. Significação e aprendizagem do aluno surdo. In: MARTINEZ, Albertina Mitjáns-Martinez; TACCA, Maria Carmen (Org.). Possibilidades de aprendizagem: ações pedagógicas para alunos com dificuldades e deficiências. Campinas: Alínea, 2011, v. 01, p. 173-206.

______; BUZAR, Edeilce Aparecida Santos. A (in)visibilidade do aluno surdo em classes inclusivas: discussões e reflexões. Espaço, Rio de Janeiro: INES, n. 37, p. 4-13, jan./jun. 2012.

LUIZ, Gabriel. Enem 2017 tem queda no total de alunos com nota mil na redação. O Globo, Rio de Janeiro, 18 jan. 2018. Disponível em <https://g1.globo.com/educacao/enem/2017/noticia/enem-2017-tem-queda-no-total-de-alunos-com-nota-mil-na-redacao.ghtml>. Acesso em: 4 mar. 2018.

OLIVEIRA, Liliane Assumpção. Fundamentos Históricos, Legais e Biológicos da Surdez. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2012.

PADOVANI NETTO, Ernesto. Ensino de História, oralidade, alteridade e surdez. In: BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José Maria (Org.). Um Pé de História: estudos sobre aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da Vitória: Edição Especial Ebook LAPHIS/Sobre Ontens, 2017, p. 97-99.

PEREIRA, Carlos Cesar Almeida Furquim; POKER, Rosimar Bortolini. O ensino de História para surdos: análise da situação de escolas especiais e de escolas regulares. Espaço. Rio de Janeiro: INES, n. 38, p. 73-78, jul./dez. 2012.

RJ1. Falta de intérprete de Libras deixa alunos sem aprender na rede municipal. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rjtv-1edicao/videos/t/edicoes/v/falta-de-interprete-de-libras-deixa-alunos-sem-aprender-na-rede-municipal/5986609/>. Acesso em 31 jul. 2017.

SANCHES, Danielle. História silenciosa. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro: Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, 12 set. 2007. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/educacao/historia-silenciosa>. Acesso em: 12 fev. 2017.

UGRINOWITSCH, Mônica. Reflexões de uma professora de História sobre o desenvolvimento linguístico em alunos surdos e ouvintes. Arqueiro. Rio de Janeiro: INES, v. 7, p. 31-39, jan./jun. 2003.

VERRI, Célia Regina; ALEGRO, Regina Célia. Anotações sobre o processo de ensino e aprendizagem de história para alunos surdos. Práxis Educacional, Vitória da Conquista, n. 2, p. 97-114, 2006.

YOKOYAMA, Lia Cazumi. Reflexões sobre o ensino de história para alunos surdos. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005, Londrina. Anais do XXIII Simpósio Nacional de História – História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. CD-ROM.

10 comentários:

  1. Foi de enorme grandiosidade seu texto a respeito do ensino a História para surdos. Depois de muitos preconceitos com o surdo noto que hoje essa temática está evoluindo, as pessoas estão passando a entender e querer compreender melhor; mas ainda à muito a se conhecer. Acredito que para se ter é fazer realmente acontecer um processo de inclusão deve-se começar desde professores do infantil; mas não é só começar somente colocando uma criança dentro de sala. É necessário recursos, cursos, formações para que o professor não se sinto como hoje está, perdido. Apesar de ter vários cursos nessa área o professor muitas vezes não te tempo suficiente para se dedicar, pois precisa trabalhar três turnos. O sistema não está mostrando maturidade suficiente para encarar o que é inclusão. Inclusão não é só incluir o aluno dentro de sala com alunos sem deficiência, inclusão é ter respeito, amor, dedicação ao aluno com deficiência dando a ele suporte suficiente para que ele possa se sentir tranquilo em um ambiente agradável e confiável. Será que o sistema algum dia irá dar esse suporte tanto para os professores quanto no ambiente físico de todas as escolas?
    Luciana Helena Lima

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    1. Prezada Luciana, obrigado por seu comentário e pergunta. Gostaria de lhe responder afirmativamente, mas só posso me atrever à especulação. Se olharmos pelo retrovisor da História, o ensino para surdos tem sido marcado por avanços e retrocessos. A imposição do método oralista em detrimento do uso de língua de sinais na educação desses sujeitos, entre o final do século XIX e o decorrer do seguinte, bem o exemplifica. No entanto, neste sentido, estamos em um período de avanços e, nesse caso, penso que a própria inclusão de surdos em escolas regulares, mesmo com todas as suas falhas e a polêmica que a envolve, é o exemplo maior. No entanto, para chegarmos a um "sim" à sua questão, acredito que o sistema, que entendi como a esfera dos gestores e das políticas públicas em Educação (corrija-me se lhe compreendi mal), ainda tem muito a fazer. No que diz respeito ao suporte para professores, urge investir em formação, inicial e continuada. Formação essa para além do ensino de Libras. Precisamos de disciplinas e cursos que auxiliem o professor a entender quem é o surdo e que lhe capacitem para o desenvolvimento e uso de metodologias de ensino adequadas àquele aluno. Faz-se necessário também a contratação permanente, no caso da rede pública, preferencialmente, por concurso de intérpretes de Libras, ou melhor, de professores intérpretes com conhecimento em nossa disciplina. Afinal, como podem mediar uma aula que eles mesmos não conseguem entender? Quanto ao ambiente físico, embora, a princípio não pareça, ele também precisa ser adequado aos alunos surdos. A acessibilidade do espaço também precisa ser levado em consideração em projetos de prédios que abriguem as futuras escolas. É preciso levar em conta, por exemplo, ângulos de corredores que permitam a visualização entre interlocutores de língua de sinais. Nas escolas já existentes, são necessárias adaptações, como sinalizações em Libras. Ambientes que possuam e permitam o uso de recursos visuais são mais do que bem-vindos. Tudo demandando investimento. É o que mais precisamos do "sistema" para termos escolas de fato inclusivas. Abraço!

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  2. Olá Paulo! É muito bom encontrar colegas do PROFHISTÓRIA/UFRJ neste simpósio! Gostei muito de seu texto, por conta da temática discentes surdos, que acaba sendo bastante silenciada em debates inclusive acadêmicos. O que realmente me chamou a atenção foi a sua abordagem ao propor o seguinte desafio: "por que não pensarmos na possibilidade de inclusão da presença surda nos conteúdos factuais da disciplina História?". Gostaria que, por favor, falasse mais um pouco sobre este ponto. Me fez pensar o seguinte: o quanto é importante incluir personagens históricos surdos no ensino de História com o propósito de contribuir para o debate acerca de identidade do surdo etc (incluí-lo) mas e quanto aos perigos de, a partir desta estratégia, acabar elaborando uma perspectiva de História dos grandes personagens, nos moldes do século XIX, positivista, rankiana?

    Elizete Gomes Coelho dos Santos

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    1. ProfHistória marcando presença no Simpósio Eletrônico Internacional de Ensino de História! Muito boa a sua pergunta, Elizete. Minha proposta de inclusão da presença surda na história aos conteúdos curriculares de nossa disciplina tem como principais objetivos apresentar aos alunos o protagonismo daqueles sujeitos na trajetória humana. Usando termo cunhado pelo professor Durval Muniz de Albuquerque Jr, "fazendo defeitos" em uma memória coletiva que, quando não os invisibiliza, vê os surdos somente como deficientes, incapazes, dignos de pena... A ideia de abordar os personagens surdos da História não é ressuscitar a velha e rançosa história dos grandes vultos, mas, a exemplo do que tem ocorrido em trabalhos a respeito de personalidades afrodescendentes, contribuir para uma visão positiva desses sujeitos. A possibilidade que levanto também não se esgota em Beethoven ou outros personagens famosos. Os surdos anônimos que coletivamente lutaram por seus pares e pelas conquistas de seus direitos também precisam ter suas ações recuperadas e ensinadas nas salas de aula. Acredito que esta inserção possa ser um importante contributo à inclusão escolar e social dos surdos. À disposição para mais esclarecimentos. Abraço!

      Paulo José Assumpção dos Santos

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  3. Parabéns pela sua abordagem. E concordo que a temática dos surdos deve cada vez mais ser discutida, tanto em Universidades na formação dos profissionais, quanto no chão da escola. Eu vivo uma experiência de atuar com dois estudantes surdos. Um menino e uma menina. Em dois anos anos estudaram em sala regular e nós professores fazíamos o que fosse possível. Este ano temos intérprete e por mais incômodo que seja ao professor ter "alguém' em sala, a gratificação, em saber que os estudantes estão compreendendo o que você fala é compensador. E muitas vezes a falta de intérprete se dá pela falta de profissionais, pois ter formação em libras não é tão acessível, não há estabilidade de local de trabalho, pois você acompanha o aluno até ele se formar e depois precisa buscar outro espaço que precisem de intérprete. então meu questionamento é: como motivar os profissionais a buscarem formação em libras?
    Abraço!
    Ana Joana Zimolong

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  4. Prezada Ana, agradeço por seu comentário e pela pergunta. Observo que, muito força da legislação e de políticas públicas, vivemos, nos últimos anos, em um contexto de expansão da acessibilidade para surdos, ampliando o mercado de trabalho dos intérpretes de Libras consideravelmente. Nesse sentido, penso que já há bastante motivação para os profissionais. Entretanto, de fato, o mesmo não parece ocorrer em nossas escolas, enquanto campo de atuação dos intérpretes. Logo nas escolas, onde se fazem imprescindíveis quando da presença de alunos surdos! Sem dúvida, melhorar a remuneração seria um bom atrativo, uma vez que esses profissionais costumam ganhar mais interpretando um único evento do que trabalhando por todo um mês em sala de aula. Não sei dizer pelas redes privadas de ensino, mas, em relação às públicas, urge a criação do cargo de intérprete de Libras ou, melhor, professor intérprete, com a contratação dos profissionais por concurso público e sua efetivação na condição de estatutários, garantindo estabilidade a eles. Se pretendemos também uma educação inclusiva de qualidade para surdos, em direção ao estabelecimento de escolas bilíngues Português/Libras, há que se motivar também professores e demais funcionários para aprenderem Libras, seja sensibilizando-os para a questão do surdo, seja oferecendo gratificações por formação, seja ofertando curso de língua de sinais no próprio ambiente de trabalho e dentro da carga horário do profissional. À disposição para eventuais dúvidas e esclarecimentos. Abraço!

    Paulo José Assumpção dos Santos

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  5. Maria Geanne Matias Gonçalves12 de abril de 2018 às 13:01

    Parabéns por se atentar para um assunto tão relevante e que envolve estruturas complexas. As licenciaturas em história é de fato muito deficiente, o que se percebe é uma preocupação exacerbada com a produção acadêmica, mas que está não está em consonância com as necessidades da educação básica, nesse ponto reside a base dos problemas que enfrentamos cotidianamente em sala de aula. Na medida em que nos falta esse contato na universidade, não nos interessamos tanto por melhorar nossa formação, então, quando nos deparamos com um caso de surdez ou qualquer outra deficiência, ficamos completamente perdidos, quando vamos recorrer à direção, eles também não tem preparo para ajudar e aí vira esse grande problema que vivenciamos. Meu questionamento está mais para uma curiosidade. Gostaria de saber, o que o motivou a enveredar por essa temática de estudo?

    Maria Geanne Matias Gonçalves

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    1. Prezada Maria, grato por suas colocações e pela questão. É um prazer respondê-la. A motivação vem de minha experiência como professor de alunos surdos em classes inclusivas, nas quais atuo desde 2006. Ao longo desses anos, venho procurando informações e desenvolvendo estratégias a fim de potencializar o ensino de História para esses alunos. Ao ser aprovado para o Mestrado Profissional em Ensino de História, no ano de 2016, levei para a academia esta temática, pesquisando práticas de ensino dessa disciplina para alunos surdos e, a partir daí, produzindo um caderno de orientação para professores que trabalham com esses discentes. Um dos objetivos é justamente minimizar essa sensação de estarmos "perdidos" quando, enquanto ouvintes, nos deparamos com os desafios de lecionar para alunos surdos. À disposição para novos questionamentos. Att.

      Paulo José Assumpção dos Santos

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  6. Boa noite.
    Seu texto me põe a refletir sistematicamente, a questão de ensinar aos não ouvintes.
    Como você nortearia um professor de história a passar conhecimento para alunos ouvintes e não ouvintes?
    Trocando a método ,"CAMPO VISÃO "?
    Grata.
    Ednéia Matos dos Santos.

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  7. Prezada Ednéia, obrigado por perguntar. Em poucas palavras, a orientação que dou é: nem tudo que serve ao aluno ouvinte serve ao surdo, mas tudo que serve ao aluno surdo também serve ao ouvinte. Uma aula expositiva, por exemplo, ainda que interpretada em língua de sinais, será muito mais proveitosa aos ouvintes do que aos surdos. Por outro lado, o uso de recursos imagéticos facilitará o aprendizado de surdos e ouvintes. Diversos autores afirmam que metodologias adaptadas potencializam o processo ensino-aprendizagem para ambos os alunos. Att.

    Paulo José Assumpção dos Santos

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