HISTÓRIA
DA EDUCAÇÃO INDÍGENA: ENTRE LUTAS, RESSIGNIFICAÇÕES E CONQUISTAS DE DIREITOS
Introdução
O final da década de 70 foi marcado por discussões
acaloradas quanto a luta dos direitos indígenas no que tange o contexto
educacional, em especifico, pela conquista de um currículo diversificado que
contribuísse no resgate e valorização de aspectos da cultura indígena,
considerando nesse contexto, a histórica sobreposição de valores e costumes
europeus em relação aos indígenas desde a colonização. As lutas dos movimentos
indigenistas giravam em torno da defesa de uma educação específica e
diferenciada que atendesse o conjunto de singularidades culturais, linguísticas
e de costumes, ou seja, todos aqueles saberes empíricos relevantes para os
povos tradicionais. O processo de reivindicação dos direitos indígenas foi
assinalado pelo surgimento de associações nacionais e outras não governamentais
no amazonas como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN),
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e
Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM), que objetivavam e
defendiam uma educação escolar indígena específica e diferenciada que
abrangesse da educação básica até o ensino superior, fortalecendo as
reivindicações dos movimentos indígenas. O surgimento dessas associações se
justificava na medida em que contribuíam na socialização e no debate quanto a
relevância de se preservar e introduzir elementos dos costumes, tradições e
saberes tradicionais dentro do currículo e no bojo das discussões de políticas
públicas, visando a garantia do direito de reconhecimento a pluralidade étnico-
cultural de cada povo.
Década de
70: as lutas indígenas, as organizações e as conquistas.
O final da década de 70, marca o início das lutas,
surgimento de organizações no Estado do Amazonas de apoio aos movimentos
indígenas em busca de dar um novo sentido em relação a cultura que por um longo
período da história foi ignorando pelos catequizadores da época, onde foram
quase que totalmente descartados saberes de grande relevância a muitos povos
primitivos, sendo impostos costumes alheio aos seus. Ainda no período da
ditadura militar não existia nada que amparasse constitucionalmente a educação
voltada para a cultura indígena, sobre o comando dos jesuítas não se pensava na
diversidade cultural que existia entre os povos, o que estava em discussão era
envolver os sujeitos através da religiosidade e trabalho.
De acordo com Buratto [2004?], os jesuítas formaram
as primeiras escolas, sobre a ordem de D. João, com o objetivo de povoar terras
e espalhar o catolicismo entres os povos indígenas.Com a expulsão dos jesuítas
pelo Marquês de Pombal, as escolas foram desativadas, a aprendizagem da língua
materna foi substituída por apenas o português. Apesar de ainda não existir
leis que amparasse o direito a uma educação diferenciada, já se existiam modelos
de alfabetização para esses povos de acordo com o grupo a qual pertenciam,
conforme Lei 6001 (Estatuto do Índio) garante a alfabetização dos índios
(BURATTO, 2004? :6).
Durante o período de colonização, os povos
indígenas tiveram modificações em vários aspectos que envolve o processo
cultural, tendo suas identidades negadas, como os seus hábitos, costumes e
principalmente na sua língua nativa, que foi mesclada no período que foram
catequizados pelos jesuítas, como forma de unificar o processo cultural e de
comunicação entre eles. Sobre isso esclarece Ióris:
“Ao longo de quase um século, até serem expulsas em 1750, essas
missões cumpriram duplo papel, o de assegurar o alargamento das fronteiras
coloniais lusitanas e o de promover um movimento para homogeneizar cultural e
linguisticamente uma mão de obra indígena oriunda de diversos e distintos
grupos étnicos.” [IÓRÍS, 2010:225].
Ainda sobre esse contexto:
“Esse período, de
modo sucinto, teve como objetivo homogeneizar a diversidade cultural indígena
através da imposição dos preceitos da civilização crista e, na medida do
possível, incorporar sua mão de obra a emergente sociedade nacional” [RODRIGUES,
2016:24].
Essa é uma das principais causas de lutas e
conflitos por espaços dentro da sociedade, tendo que ser palco de muitas
discussões para ressignificação de saberes empíricos indígenas. Apesar de todas
as conquistas, principalmente no que já está amparado por lei não são garantias
de que todos os direitos serão efetivados na realidade. Sobre isso esclarece
Estácio:
“Logo, parece haver um jogo de forças
contraditórias entre as posições progressistas garantidas na lei e a efetivação
desses princípios, ou seja, um distanciamento do dizer para o fazer.” [ESTÁCIO,
2016:107].
Por mais que já exista na constituição o direito a
uma educação diferenciada e específica para índios, ainda continua a
resistência em seguir o sistema tradicional, com professores não indígenas
ministrando aulas, sem entender a língua, deixando de garantir direitos educacionais
relevantes a sua cultura, impondo costumes apenas dos “brancos”, os livros
didáticos repletos de ideologias que não condizem as suas realidades.
Década de
80: As lutas Indígenas Pós Ditadura Militar
Com o fim do regime militar,
abriu- se um caminho para um período longo de grandes lutas implementadas pelas
entidades e organizações não- governamentais, em reinvindicação pelas
modificações na área política, onde o governo foi muito pressionado para buscar
melhorias para o Brasil. Na década de 80, as lutas indígenas
continuam com mais intensidade, uma época de muitos conflitos, com todos esses
acontecimentos, dentro desse contexto surge a maior lei de 88, chamada de carta
Magna, que abre caminhos para novas conquistas de direitos tradicionais que
foram quase que esquecidos no tempo, como é o caso da cultura indígena, não só esse marco, como também a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei n° 9394/96. Também conhecida
como LDBEN ou Lei Darcy Ribeiro, garantindo que o ensino fundamental fosse
ministrado na Língua Portuguesa, e dando aos povos indígenas o direito a
aprendizagem de sua língua materna e o seu próprio processo de ensino, e também
a lei 11/645/2008, que ampara o estudo da história tanto afro- brasileira como
indígena no currículo. Os direitos não se restringem só a isso, mais esses
marcos constitucionais abrem caminhos para os decretos, artigos e todos que
virem a apoiar dentro desse contexto.
“O autor deixa claro que o objetivo principal das
lideranças indígenas ao final da ditadura militar, era pressionar a união, os estados
e também a sociedade, em busca de reestruturação na política indigenista do
estado como forma de assegurar seus direitos a uma educação escolar autêntica
que atendessem às especificidades de cada povo. Mesmo não tendo chegado ao
ideal das escolas indígenas, as mudanças que vem acontecendo principalmente por
causa da legislação, trazem uma aproximação para as exigências do movimento indígenas”
[ESTÁCIO, 2016].
Nesse período as lutas dos povos indígenas eram por
uma educação escolar que atendesse a diversidade cultural dos vários povos
indígenas existentes. Foi um período onde surgiram importantes organizações de
apoio aos movimentos e o princípio de inúmeras conquistas, que atendesse todos
os seus direitos e alcançassem as conquistas constitucionais de 1988. Nesse
sentido esclarece Rodrigues:
“(...) a constituição de 1988 marca uma mudança
importante na concepção do Estado sobre as sociedades indígenas. O fundamento
epistemológico deixa de ser o integracionista e passa a ser o da valorização,
ou pelo menos da aceitação, da diversidade cultural (...)” [RODRIGUES, 2016:26].
Ainda sobre esse fator discorre Souza:
“Ás décadas de 1980 e 1990, apesar de a educação
escolar indígenas se apresentar ainda com mais questões a serem discutidas e
transformadas, foram períodos de significativos avanços e conquistas,
principalmente marcadas pela aceleração das discussões e propostas legais de
regulamentação de educação escolar nas comunidades indígenas a partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988.” [SOUZA, 2016:56].
Apesar de todas as conquistas, ainda continuava a
ser aplicada a educação do sistema formal, institucionalizada pela educação não
indígena, ou seja estava amparado na lei, mas não estava sendo efetivado como
deveria e continuava o processo de exclusão. Devido a esse fator de tantas
contradições, as lideranças e representações comunitárias indígenas de todo o
Brasil, procuraram através de assembleias resolver problemas comuns, como a
educação específica e diferenciada que atendessem as especificidades
sociocultural de cada povo. Sobre isso pondera Mourão; Melo:
“O reconhecimento desses saberes, como discorre a
lei 11.645/2008, torna-se necessário no currículo escolar tanto fundamental,
quanto médio, sendo um fator essencial para a transmissibilidade de um povo
para outro, mas para isso é necessário
que criem escolas, que atendem os povos indígenas com suas culturas,
costumes, línguas enfim com tudo que for de direito, ou seja, uma escola
diferenciada mas que possibilite não só esses saberes como também o
sistematizado” [MOURÃO; MELO, 2017:14].
São inúmeros problemas em que os povos tradicionais
são submetidos a enfrentar, desde a educação, saúde, disputas por posse de
terra, percebe- se que atualmente ainda continuam intensos e precisam lutar e
construir meios para garantir espaços na sociedade, por esses motivos que
quanto mais trabalhos, ou seja, literaturas voltadas para esses ricos
conhecimentos, melhor para a valorização de saber. Sobre isso afirma Mourão; Melo:
“Nessa mesma linha, torna- se necessário a
construção de literaturas voltadas para os saberes como um fortalecimento
cultural e social em favor dos povos tradicionais e também para o resgate
desses costumes necessários para essa população” [MOURÃO; MELO, 2017:14).
Os indígenas, assim como outros grupos tradicionais
lutam contra a desigualdade ao acesso à educação dentro das universidades,
sabem que é de grande importância para a construção de conhecimentos
principalmente das leis que os amparam, mesmo tendo a consciência de que não é
tão simples assim, pois a presença deles nesse espaço vem acompanhados de
discriminações e de muitas dificuldades relacionado a língua e também ao seu
cotidiano. Nesse campo esclarece Pitanga; Lira:
“Diversas são as dificuldades enfrentadas pelos
indígenas no curso, sendo que a língua é a dificuldade preponderante. Isso sem
contar que o seu cotidiano sofre consideradas transformações mesmo que estes
estejam alojados em local um pouco afastado da sede do município, esses
costumam caçar, por exemplo, o que não é possível no local. Não menor é o
trabalho com textos científicos e a linguagem dos mesmos. Porém, os mesmos
enfrentam esses fatos que se constituem enquanto problemas, o que nos
impulsiona e aumenta nossa vontade de estudar e ampliar a sua formação nos
professores indígenas” [PITANGA; LIRA, 1996:4].
Considerações finais
No final da década de 70, começam as discussões, as
lutas, em prol de uma educação específica e diferenciada para os índios. Nesse
mesmo período surgem associações que vão fortalecer os movimentos indígenas em
prol das reivindicações feitas por eles. Foram muitas conquistas, principalmente
na década posterior, apesar da constituição estar recheada de direitos, ainda é
preciso que se lutem constantemente para que sejam concretizados no que tange a
educação escolar indígena. E um grande desafio para esses povos, pois em uma
sociedade capitalista, onde o sistema das classes educacionais dominantes
persistem em se manter, a efetividades desses direitos constitucionais ficam
cada vez mais difícil.
Dito em outras palavras, a história da educação
brasileira no que tange a educação escolar indígena, no pós ditadura militar, teve
inúmeras lutas, modificações, discussões e também conquistas em relação as
leis, mas não o suficiente para mudar a realidade ao qual esses povos indígenas
estão sujeitos. Atualmente esse
senário continua evidente dentro dos ambientes escolares, da educação infantil,
do ensino fundamental e médio e do ensino superior, principalmente nessa última
modalidade de ensino, onde são mais expostos as condições de desigualdade.
A lei da abertura, mas não condições, ou seja,
integra mas não incluem. Esses
sujeitos têm acesso à educação superior, mas tem sua aprendizagem comprometida
por vários aspectos, os mesmos além de terem que sair do seu próprio local de
origem, aprender uma segunda língua (o português), encontrarem professores sem
qualificação em línguas indígenas, sem intérprete na sala, e ainda são
submetidos a avaliações formuladas para todos como se as salas de aula fossem
homogêneas, sem se preocuparem com a diferença cultural de cada indivíduo. Dentro
desse cenário, pode-se perceber que ainda é preciso muitas lutas para a
efetivação de direitos constitucionais visando atender a educação em todas as
suas dimensões, para que os povos indígenas tenham direitos ao acesso, permanência
e formação no âmbito de uma educação intercultural, específica e bilíngue.
Referências
Denilce
Raimunda de Castro Mourão – É acadêmica indígena
do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do
Pará (UFOPA). E mail: denilcedecastro@hotmail.com
Wilverson
Rodrigo Silva Melo (Coautor e Orientador)
- É Mestre em História pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutorando em História Contemporânea pela Universidade
de Évora (UÉVORA). Atualmente é Docente na Universidade Federal do Oeste do
Pará (UFOPA). E-mail: w.rodrigohistoriador@bol.com.br.
BURATTO,
Lucia Gouvêa. A educação escolar indígena na legislação e os indígenas com
necessidades educacionais especiais. 2004?. In: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/565-4.pdf.
ESTÁCIO,
Marcos André Ferreira. Organizações Indígenas no Amazonas e a luta por Educação
Escolar. VII Congresso Brasileiro de
História da Educação- Cuiabá- MT. Ano 2016.
IÓRIS, Edvirges
Marta. Identidades negadas, identidades construídas: processos indenitários e conflitos territoriais na Amazônia. Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, Brasil, 2010.
MOURÃO, Denilce Raimunda de Castro; MELO, Wilverson
Rodrigo Silva de. Educação Indígena: os
saberes tradicionais no currículo escolar. I Encontro Regional do Grupo
de Estudos e Pesquisas HISTEDBR-UFOPA Educação e Realidade Amazônica: história,
formação docente, tecnologia, política educacional e diversidade cultural.
Santarém, 2017.
PITANGA, Maria Eunice Sá; LIRA, Rosenir de Sousa. Os (des) caminhos da educação indígena no
Amazonas: o papel da universidade na formação dos professores. Revista
Ibero americana de Educación - Palestra proferida no I Simpósio dos Povos
Indígenas do Rio Negro: Terra e Cultura, Manaus, 1996.
RODRIGUES,
Gilberto Cesar Lopes. Educação e Emancipação na Escola Indígena: uma análise à luz dos
fundamentos filosóficos da pedagogia histórico-crítica. In: Marcos André
F. Estácio; Lucia Nicida. (Org). História e educação na Amazônia. EDUA, 2016,
V. 1, P. 23-42.
SOUZA, Adria
Simone Duarte de. A construção do conceito de
bilinguismo na educação escolar indígena: o caso dos Munduruku do Rio
Canumã-AM. H673 História e Educação na Amazônia. / Organização de
Marcos André Ferreira Estácio e Lucia Regina de Azevedo Nicida. – Manaus: EDUA;
UEA Edições, 2016.
Olá Denilce Mourão, parabéns pelo seu trabalho, você faz uma abordagem interessante sobre o final da década de 70, que especifica as lutas pelos direitos dos povos indígenas. Se a década de 70, marca o início das lutas dos povos tradicionais, então, de que forma se organizou essas lutas e quais foram essa conquista que o povo tiveram a partir desse período?
ResponderExcluirSuerley Mendes Parintins
Obrigado Suerley Mendes, pela escolha do nosso texto e pela inteligente pergunta. As lutas foram se organizando através dos povos indígenas e das organizações governamentais e não- governamentais que surgiram no final da década de 70 como Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM), que foram importantíssimas organizações de apoio para as conquistas que surgiram na pós ditadura militar na década de 80, como a constituição de 88 e as demais que amparam os direitos constitucionais dos povos tradicionais no currículo escolar, tanto afro- brasileiro como indígenas a uma educação diferenciada e específica, por mais que ainda não atenda a todas as suas especificidade, mas já se aproxima muito de suas reinvindicações.
ExcluirPor: Denilce Raimunda de Castro Mourão
Primeiramente parabeniza-la pelo trabalho.
ResponderExcluirDenilce e Wilverson,no decorrer do artigo, vocês falam que "ainda continua a resistência em seguir o sistema tradicional, com professores não indígenas ministrando aulas". Na visão de vocês, vocês defendem que no campo da educação escolar indígena os professores devem ser obrigatoriamente indígenas? É possível propor um tipo de formação para professores não indígenas que garanta uma espécie de resgate, valorização e transmissão dos saberes tradicionais?
...
Raquel dos Santos Correa.
..
Raquel Correa, primeiramente gostaria de agradece- la pela pergunta. Quando mencionamos a questão de professores não indígenas ministrando as aulas, nos referimos a professores que não tem conhecimentos do espaço e levam conteúdos que não condizem suas realidades, pois os indígenas merecem sim ter outros conhecimentos, mas que não se restrinjam apenas a isso. É possível sim, que os profissionais tenham formações antes de atuarem nesses espaços, pois dessa forma o professor terá mais êxito a todos os aspectos relevantes a esse público.
ExcluirPor: Denilce Raimunda de Castro Mourão
A educação para todos os grupos étnicos raciais se faz necessário nos tempos em que vivemos, onde a "igualdade", a apesar de ser uma fachada, garante a todos os mesmo direitos. levando em consideração as alteridades que cada grupo carrega, tentar inseri-los dentro de outro universo se faz necessário um ensino diferenciado levando em consideração os saberes indígenas, sua língua e cultura de modo a valorizar seus costumes e tradições para que não percam essa essência?
ResponderExcluirROBERTO RAMON QUEIROZ DE ASSIS
Roberto Ramon, obrigada pela pergunta, é bastante interessante. Apesar de já haver a constituição de 88, a lei 11. 645/2008 que amparam a obrigatoriedade do estudo da história tanto afro- brasileiro como indígena no currículo escolar, não quer dizer que todos os direitos serão efetivados como está escrito, concordo com você quando fala que os direitos não são iguais para todos, pois atualmente ainda é preciso que tenham intensas lutas dos povos tradicionais para que sejam valorizados as diversidades de culturas que existem principalmente dentro do currículo escolar, onde possam através desse instrumento valorizar o processo de transmissibilidade de saber, atendendo os seus costumes, crenças, tradições, suas línguas, ou seja suas raízes.
ExcluirPor: Denilce Raimunda de Castro Mourão
Olá Denilce. Parabéns pelo trabalho e pela resistência.
ResponderExcluirNão sou indígena, mas sou professora na Escola Indígena Ywy Porã (etnia Guarani Nhandeva), que fica no norte do Paraná. Ingressei esse ano no Mestrado em Educação e vou pesquisar o ensino de História na Escola Indígena.
Assim como você, eu e os demais profissionais com quem trabalho, temos a consciência de que temos muito que avançar para a efetivação de uma educação escolar indígena específica e diferenciada. No nosso Estado, para além da legislação federal, contamos com algumas políticas educacionais afirmativas quanto a educação escolar indígena, por exemplo na escola que atuo a equipe gestora é toda formada por indígenas, a comunidade tem garantido o direito de avaliar o trabalho dos profissionais da educação através de chamada carta de anuência (documento que garante a escolha pela comunidade dos profissionais que atuarão na escola, tanto indígenas, quanto não indígenas), mas ainda percebemos muitas fragilidades.
Gostaria de saber se o seu Estado tem alguma política educacional específica para a educação escolar indígena?
LUCIANA HELENA DE OLIVEIRA VICELI
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ResponderExcluirGostaria de parabeniza-los pelo tema extremamente importante, apesar das conquista alcançadas pela Educação Indígena um problema recorrente é a questão dos materiais didáticos, nos quais os indígenas pouco são representados e quando o são é de um modo que leva o aluno a entender que só existe indígena nos estados AM e MT, deixando de fora outras regiões como o Nordeste por exemplo. Gostaria de saber, que estratégias vocês indicariam para sanar este deficit?
ResponderExcluirSIMONE MARIA DA SILVA
Obrigada Simone Silva, gostei do ponto de vista ressaltaldo em seus questionamento, realmente é importante discorrer sobre isso. Concordo quando fala dos livros didáticos que discorrem apenas de algumas culturas, como se nas outras regiões não existissem populações tradicionais. Tem várias estratégias para socializar saberes, através de seminários, mini- cursos, palestras, simpósios tanto nacionais, como internacionais.Os saberes tradicionais não podem se restringir apenas em uma parte da história, cabe ao professor mudar essa realidade, falando do que está nos livros para que os alunos possam ter conhecimentos diferentes e atualizar as suas realidades para que se tenha uma melhor aprendizagem, abrangendo o máximo de conhecimentos existentes dentro desses espaços.
ExcluirDenilce Raimunda de Castro Mourão
Gostaria de saber se vocês tem conhecimento de que existe uma distinção entre Educação Escolar Indígena e Educação Indígena Diferenciada? se sim, como se da essa distinção?
ResponderExcluirSIMONE MARIA DA SILVA
Obrigada mais uma vez Simone Silva, pela credibilidade e por trazer mais um ponto para discussão. Em relação a sua pergunta, temos conhecimento sim, pois existem diferenças nesse dois pontos em relação a Educação Escolar Indígenas e Educação Indígena diferenciada. A educação escolar indígenas acontece no espaço escolar, onde os alunos aprenderão as formas sistematizadas com conteúdos programáticos diferentes do seu cotidiano, ou seja de suas vivências. Na educação escolar indígenas diferenciada os conteúdos dão ênfase aos seus próprios conhecimentos dentro do seu processo cultural, com suas crenças, seus costumes, seus saberes através do notório saber e do estudo da língua nheengatu.
ExcluirDenilce Raimunda de Castro Mourão
Cara Denilce, gostei de seu texto. Nele apresentas importantes questões para debate, especialmente no que diz respeito à Educação Escolar Indígena na Educação Básica e no Acesso, permanência e sucesso de indígenas no âmbito do Ensino Superior.
ResponderExcluirNesse sentido, aproveitando que você é acadêmica indígena na UFOPA, gostaria de saber quais são os principais desafios que enfrentas diante do cotidiano universitário. Se possível, gostaria que falasses um pouco sobre como as relações com acadêmicos não indígenas têm sido desenvolvida nessa sua caminhada na Universidade! Se possível, também fale-nos sobre os principais desafios que enfrentas no que diz respeito ao reconhecimento e valorização de sua diferença no cotidiano da UFOPA.
Agradeço antecipadamente!
Fernando Roque Fernandes
Universidade Federal do Pará
Caro Fernando Roque Fernandes, gostamos de sua pergunta é bem interessante e será um prazer falar desse cotidiano acadêmico. Ingressei na universidade através do ENEN, como não falei no início que era indígena, por um longo período foi tranquilo, no momento que comecei a falar da minha cultura, dos meus costumes, meus hábitos, minha família, aí pude perceber a desigualdade, a descriminação que ainda persiste dentro desses espaços, são muitas piadinhas como: "você não tem cara de índio", "se você é índio, porque você não fala a língua", "esse índio é muito estiloso". Dentro da sala no momento de formar os grupos, somos excluídos por causa de nossas dificuldades. Em um determinado semestre, presenciei um colega que estava comigo em um estágio, ser descriminado pela professora da universidade, responsável pelo estágio, pela “simples” dificuldade de se expressar, a mesma não havia percebido que erámos indígenas e que existe os que dominam e os que ainda não dominam a língua portuguesa. Nesse ponto, percebemos o quanto ainda temos que lutar para que sejam valorizados os direitos constitucionais que nos amparam. Nessa minha caminhada acadêmica percebo que são muitos desafios a serem enfrentados, e a principal dela é a língua que a maioria não dominam e que precisam aprender uma segunda, sendo que os professores não têm conhecimentos da língua, não existe interprete para facilitar esse aprendizado e os mesmos precisam se mobilizarem para que não venham a desistir como já aconteceu com muitos, as avaliações são formuladas como se as salas de aula fossem homogêneas. Ainda sobre a relação com os professores, alguns não possuem certa flexibilidade para os momentos de avaliação, onde em alguns casos, somos taxados como "preguiçosos" sendo desconsiderado nossas dificuldades no processo de aprendizagem. Sempre me relacionei bem com os meus colegas do meu curso, as desigualdades geralmente vêm por pessoas de outros cursos, que não estudam na mesma sala.
ExcluirPor: Denilce Raimunda de Castro Mourão
Olá Denilce, boa tarde!
ResponderExcluirQuero te parabenizar pela iniciativa, a educação escolar indígena é uma temática que ainda tem muita carência de discussão, e, ler uma produção em torno da temática partindo de uma indígena é gratificante.
No que tange o corpo textual, vejo que elaborou com precisão o contexto de seu recorte temporal para este trabalho. No entanto, gostaria de saber um pouco sobre sua experiência com a educação no seio de seu cotidiano, quando ainda estava na fase escolar.
Além disso, gostaria de saber se pretendes dar continuidade a essa pesquisa em trabalhos maiores, como um possível trabalho de conclusão de curso?
Maria Larisse Elias da Silva
Universidade Federal de Campina Grande.
Olá, Maria Larisse Elias da Silva, me sinto muito orgulhosa em compartilhar um pouco de minhas experiências como indígena com você, principalmente de quando ainda estava na fase escolar. Nesse período não tinham ensinamentos sobre os saberes tradicionais dentro do currículo escolar. As únicas coisas relacionadas sobre indígenas que recordo, eram sobre descobrimento do brasil, o período de catequização enfim, não existiam nada que amparassem esses saberes tradicionais dentro do currículo escolar, nem um tipo de política pública. Nesse período, tive acesso aos saberes tradicionais através da minha convivência com o meu povo, na minha comunidade, através das lendas, das histórias contadas pelas pessoas mais velhos, aprendi o respeito pela natureza, a valorizar a terra que é de grande relevância para o meio de subsistência do nosso povo. Inclusive o meu trabalho de conclusão do curso e sobre os saberes tradicionais com o tema: Educação e saberes tradicionais indígenas: Conhecimentos de plantas medicinais e currículo na escola Santa Luzia em Muratuba (2010- 2017). Estou quase no final do meu trabalho, na parte das análises das entrevistas que fiz com a parteira, o pajé, a guerreira da aldeia e também dos questionários que apliquei para a equipe gestora da escola, objetivando, identificar os saberes tradicionais indígenas sobre o uso das plantas medicinais e sua relação com o currículo na Escola Santa Luzia em Muratuba. Dentro desse contexto torna-se importante saber como está sendo o processo de transmissibilidade mnemônica, ou seja, através de memórias, das populações tradicionais, tanto pelos agentes internos como externos a escola. Acredito que quanto mais trabalhos envolvendo essas temáticas, melhor para o reconhecimento da cultura, ou seja de nossas raízes. Em outras palavras, esses saberes representam uma fonte riquíssima para a construção de novos trabalhos afim de garantir a manutenção cultural e de crenças dos povos tradicionais, além de abrir espaço para se (re)pensar o currículo de escolas (não e) indígenas.
ResponderExcluirPor: Denilce Raimunda de Castro Mourão
Sabemos que o ensino da história afro-brasileira e indígena são ambos amparados por lei, como é o caso da lei 11.645 que foi citada acima. Como professores, quais foram as experiências negativas que vocês já tiveram dentro de sala e como contornaram isso? Ou quais são os meios que podem nos indicar para contornamos isso pois sabemos que os alunos são treinados para ter um pensamento equivocado sobre os povos indígenas. Então quais meios utilizar para quebrar esses estereótipos?
ResponderExcluirBrenda Hanna Chagas Peso