Jeane Carla Oliveira de Melo


HISTORIA DAS MULHERES E ENSINO DE HISTÓRIA


Introdução
No ENEM realizado em 2016, uma das perguntas da prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias trazia uma peça publicitária datada de 1968 em que uma mulher aparece com trajes de astronauta segurando um produto de limpeza e na sequência, os seguintes dizeres: “as mulheres do futuro farão da Lua um lugar mais limpo para se viver”. A questão gerou uma imensa repercussão nas redes sociais por discutir de modo aberto como a sociedade (através da cultura da mídia) contribui para a manutenção de estereótipos sexistas. No ano anterior, em 2015, houve uma questão que buscava refletir sobre os significados da máxima “não se nasce mulher, torna-se”, da filósofa feminista Simone de Beauvoir, com a resposta indicando que o “ser mulher” é uma construção cultural, material e histórica e não uma “essência” que exista para cumprir determinado destino biológico. Na mesma prova, aprofundando o debate, o tema de redação foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, tema este bastante comemorado pelos movimentos sociais de mulheres que se sentiram igualmente contemplados com a sensibilidade pela escolha da temática; sem dúvidas, é um enorme ganho político ter milhões de jovens debruçados na produção de uma reflexão acerca dos produtos mais nefastos do sistema patriarcal: a violência contra o sexo feminino.

Todas essas discussões trazem para nós docentes da História, uma importante indagação: estamos discutindo junto as nossas alunas e alunos os significados da produção do sexismo/machismo em nossas aulas? Estamos produzindo reflexões ativas acerca da presença das mulheres na história? Ou continuamos lecionando uma história masculina em que apenas em um conteúdo ou outro que as mulheres são “convidadas” a entrar e se fazerem presentes, para sumirem nos próximos capítulos? Considerando que os movimentos sociais de mulheres têm cada vez mais articulado política e conhecimento, reivindicando espaços na sociedade, qual é o papel educativo dos professores e professoras comprometidos com a transformação social e com a produção de um saber histórico escolar afinado com o século XXI e suas múltiplas demandas sociais? Assim, pensamos que

“pesquisar o lugar das mulheres na história é uma tarefa que envolve complexidades e requer também saber interpretar apagamentos/esquecimentos e silêncios. Nossa historiografia continua sendo escrita e feita por vozes masculinas, e, apenas muito recentemente é que estudos sobre as mulheres começaram a ser produzidos especificamente no âmbito da pesquisa histórica. Convém destacar que, como afirmou Walter Benjamin somos sujeitos históricos “repletos de agora”, ou seja, a análise do passado se dá, portanto, em função do tempo presente. Assim, podemos seguramente apontar que o interesse por questões femininas na história se concretizam em virtude destas se apresentarem bastante urgentes da contemporaneidade, marcadas pela emergência de movimento sociais de mulheres, tais como o Movimento Feminista dos séculos XX e XXI” (MELO, 2017, pp. 3-4)

Portanto, uma das tarefas dos historiadores e historiadoras é compreenderem e atuarem na construção de um “novo normal”, em que seja constituída uma historiografia capaz de abarcar as experiências das mulheres no tempo e como estas, enquanto sujeitos históricos, reproduziram suas existências limitadas por condições de desequilíbrio social/material/simbólico e desigualdades nas relações de poder entre os sexos (PERROT, 2005). Dito isto, é importante validar a produção do sujeito histórico mulher como emergente e urgente no campo da pesquisa acadêmica, no ensino das humanidades, sobretudo, no Ensino de História. O saber histórico escolar, portanto, tem se revelado como um instrumento em potencial para produzirmos um contraponto incômodo em relação a voz autorizada da episteme científica – que ainda é masculina.

História das Mulheres e historiografia: breves aportes
No livro, “Os Excluídos da História”, Michelle Perrot (1992) contribuiu enormemente para edificar o campo de estudo da História das Mulheres. Em nossa proposta de articulação entre a História das Mulheres e o Ensino de História, a contribuição de Michelle Perrot será importante na medida em que seus estudos promoveram o efeito de deslocar narrativas centradas e escritas por homens para perspectivas mais democráticas de conhecimento ao dar voz a sujeitos historicamente excluídos. Desnaturalizar a “voz sagrada” masculina das narrativas historiográficas é, além de uma alternativa epistemológica, uma posição indubitavelmente consciente e política. Eis a lição que a historiadora francesa Michelle Perrot vem nos ensinando desde a década de 1970. Sobre os silêncios acerca do papel desempenhado pelas mulheres na história,

“Essas diferenças sociais, culturais e históricas entre os sexos também repercutiram no modo de se conceber e valorizar o que é considerado como fonte histórica. Em relação a isto, Motta (2010, p.272) aponta sobre as mulheres que “nós não estamos presentes na maior parte dos arquivos oficiais e somos bastante desrespeitadas nos arquivos particulares, vítimas da incineração de nossos escritos por serem considerados de pouco valor”. Dito de outro modo, as assimetrias nas relações de poder entre homens e mulheres também são expressas na quantidade de fontes disponíveis para analisar os indivíduos. Fontes históricas, como produtos culturais de uma determinada época e espaço, também são particulares e sexualizadas, agregando em si mesmas fortes componentes de gênero” (MELO, 2017, p.4).

É importante destacar que a emergência do campo História das Mulheres não se deveu apenas ao Movimento Feminista, mas também foi favorecido em termos de historiografia e metodologia pelo surgimento da Nova História que, demarcando uma mudança na ciência histórica, ampliou olhares, objetos e fontes acerca do estudo com o sujeito histórico mulher. No entanto, o desafio atualmente está em promover pontes que possam aproximar essas novas abordagens com a formação dos historiadores e historiadoras, com a produção dos livros didáticos, com a construção dos currículos e diretrizes alinhados a uma política educacional mais inclusiva.

O campo História das Mulheres e o diálogo com o ensino de História: sugestões de atividades no espaço escolar

Antes de tudo, partimos do pressuposto que o ato de educar possui finalidades políticas bem demarcadas e está profundamente associado a uma cultura escolar específica, que por sua vez, se liga as condições históricas do tempo ao qual está inserida. Temos a plena consciência de que estamos vivendo um contexto político após o golpe de 2016 marcado por autoritarismo e retrocessos em variadas áreas sociais, dentre elas, a educação. Disto isto, sabemos que os fascismos e os discursos de ódio proferidos por diferentes agentes e meios têm pautado de modo irresponsável e perigoso o atual debate político.

Nesse interim, ressaltamos as tentativas e projetos reacionários contra políticas de inclusão já conquistadas pelas minorias, como a exclusão do termo “gênero” do Plano Nacional de Educação, o projeto Escola Sem Partido e as inúmeras perseguições empreendidas aos professores e professoras que vêm sofrendo assédio moral, sendo constantemente acusados de “esquerdistas”, “comunistas”, “petralhas”, doutrinadores “ideológicos” a serviço dos interesses comunistas internacionais. Nesse cenário, o trabalho educativo progressista, crítico e questionador da realidade se mostra cercado de boicotes e resistências de todos os tipos. No entanto, pensamos que não podemos abrir mão de nossa liberdade de cátedra, que é uma garantia constitucional que assiste à profissão docente e também uma forma de combate ao obscurantismo e desonestidade intelectual que grassam nesses tempos atuais.

Longe de querer propor aqui um modelo fechado de passos e procedimentos didáticos, as sugestões a seguir foram elencadas com base no potencial educativo que as atividades ensejam, com a ressalva que algumas delas já vivenciadas no espaço escolar do Ensino Médio, produzindo uma exitosa construção compartilhada de conhecimentos:

a) Levantamento de imagens e textos sobre as mulheres nos livros didáticos de modo que seja possível ilustrar de que forma as mulheres estão representadas no livro didático de História e como cada autor/autora inclui/exclui mulheres da narrativa histórica.

b) Análise de peças publicitárias voltadas para os públicos masculino e feminino para identificação, discussão e desconstrução das imagens sexistas veiculadas pela mídia. Boa oportunidade também para discutir a respeito da cultura da mídia e a construção das subjetividades por meio da publicidade.

c) Datas como o Dia Internacional da Mulher e o Dia da Consciência Negra favorecem o trabalho educativo com a temática a partir dos mais variados enfoques e atividades desenvolvidos junto com a comunidade escolar, em uma perspectiva pedagógica ao reforçar práticas de uma escola sem machismo.

d) Criação de um cineclube com filmes e documentários temáticos e debates. Essa atividade pode se dar através de um projeto bimestral, é extremamente válida no sentido de discutir aspectos voltados para a própria construção cinematográfica (filme como fonte histórica) e despertar reflexões a partir das mensagens veiculadas pela linguagem fílmica.

e) Incentivar a criação de núcleos e coletivos feministas que podem estar articulados ou não ao grêmio escolar, em um movimento de fazer com que as jovens experimentem “fazer política” e construir espaços próprios de protagonismo e representatividade no espaço escolar.

f) Fomentar pesquisas que tematizem a história da legislação dos direitos das mulheres (convidar advogadas e professoras da área jurídica, se possível) e introduzir biografias de mulheres que deixaram sua marca na história, de preferência, mulheres invisibilizadas pela memória histórica. Com o material biográfico levantado, estimular a produção de cordéis feministas como meio de produção de registros dessas vozes silenciadas.

g) Criação de um blog colaborativo para produção e compartilhamento de textos acerca da História das Mulheres ou para composição de uma biblioteca feminista virtual, disponível para ampla consulta.

h) Em diálogo com a disciplina de Literatura e Língua Portuguesa, realizar levantamento de autoras negras e indígenas contemporâneas e promover um projeto aos moldes do “Leia Mulheres” (sarau literário que visa ler e debater obras de autorias femininas).

i) Também de modo interdisciplinar, com parceria com docentes de Artes, levantar e analisar representações femininas na história da arte bem como pesquisar sobre mulheres artistas no Brasil e no mundo, e realizar exposição com a reprodução do trabalho destas artistas.

Conclusão
Dentro e fora da academia, por vezes os maiores obstáculos partem de premissas equivocadas de muitas correntes teóricas sobre o que significa o feminismo – esse termo que acabou se tonando mais uma vez “maldito”, nos tempos atuais. O atual backlash (retrocesso) da agenda política e social tem contribuído enormemente para a reificação da dominação entre os sexos, sendo muito útil para a manutenção do patriarcado nos lugares em que ele deveria ser enormemente debatido e combatido. Enxergamos que nessa seara um dos caminhos possíveis é o esforço coletivo de mulheres por identificar e lutar contra o machismo nos espaços de poder e produção de conhecimentos. É ainda um imenso desafio integrar a História das Mulheres ao ensino de História. A sala de aula, nesse sentido, se configura como um lugar privilegiado para a construção de saberes feministas politicamente situados. Deste modo, percebemos o campo de estudos da História das Mulheres uma ferramenta poderosa para gritarmos que somos sujeitos da história e não uma curiosidade/artefato da História Cultural sem poder político para alterar o processo histórico.


Referências 
Jeane Carla Oliveira de Melo é professora de História do IFMA Campus Alcântara e mestre em Cultura e Sociedade pelo PGCULT/UFMA.

MELO, J. C. O. A importância de uma abordagem feminista nos cursos de Licenciatura de História: considerações iniciais. In: BUENO, Andre; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José Maria. (Org.). Jardins de Histórias: discussões e experiências em aprendizagem histórica. 1ed.Rio de Janeiro: LAPHIS/Sobre Ontens, 2017, v. 1.

MOTTA, Diomar. Omissão e inserção histórica da mulher na cultura escolar. In: CASTRO, Cesar Augusto. Leitura, impressos e cultura escolar. São Luís: EDUFMA, 2010.

PERROT, Michelle. Os excluídos da história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

______. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: EDUSC, 2005.



36 comentários:

  1. Olá Professora Jeane! Excelente e necessário texto!
    Tenho algumas considerações. Na tentativa de construir uma História das Mulheres, tanto em termos de conhecimento histórico como no ensino de história, seria possível desestabilizar o tradicional eurocentrismo do saber/fazer histórico? Visto que o modelo eurocêntrico condiciona também os cursos de formação de professores, os livros didáticos, os currículos e o próprio modo de ensinar? Como desestabilizar os condicionamentos para uma História das Mulheres que represente nossa diversidade, sem desestabilizar a colonialidade? Tenho aprendido sobre feminismo decolonial e interseccional e vejo aí maiores possibilidades.
    Por fim, minha leitura não é de que o feminismo novamente tenha se tornado "maldito" no contexto atual. Se ele tem sido tão mal falado por alguns (reacionários e sexistas), é porque novamente ganhou evidência. Muitas jovens hoje tem acesso aos debates do movimento e da teoria feministas, em grande parte, devido à sua propagação nas redes sociais. Este contexto até 10 anos atrás não se manifestava. Em minha graduação, no curso de história, era a única a se interessar pelo tema. Hoje me deparo com a divulgação de um Congresso Internacional de História, que ocorrerá em Jatái/UFG, dedicado às temáticas feminista e de gênero. Gostaria que discorresse sobre essa minha visão positiva do contexto presente. Muito grata!
    Andreia Costa Souza

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    1. Obrigada pelas observações, Andréia! Vou tentar ser bem sucinta ao responder as colocações feita por você acerca do texto.
      1. Não existe possibilidade alguma de pensarmos a "nossa" História das Mulheres sem os marcadores de classe, raça e etnia e geração. O desafio de construir uma narrativa histórica feminista quilombola, ribeirinha, negra, periférica, é imenso!
      2. O feminismo interseccional nasce das segunda onda nos idos de 1960 e pontua que "o pessoal é político", ou seja, as tramas da dominação patriarcal também ocorrem nos espaços de micro-poderes e no cotidiano.
      3. O fortalecimento do movimento feminista atualmente têm feito reacionários, conservadores (bem como alguns camaradas da esquerda) virem nos atacar de modo mais contundente. A execução da querida e combativa Marielle Franco nos dá mostras do quanto é perigoso ser feminista, negra e defender minorias.
      4. As mulheres que se colocam frontal e publicamente na defesa dos direitos das mulheres têm sido frequentemente perseguidas, ameaçadas, constrangidas e intimidadas. Precisamos nos fortalecer porque para o feminismo ter ganhado "evidência", pode ter certeza que foi às custas do adoecimento (mental e físico) de muitas mulheres que correram enormes riscos ao pautar uma prática de combate feminista em seus espaços de trabalho e vivência (e eu me incluo nelas).
      5. A academia nos fornece ferramentas imprescindíveis na compreensão e leitura do mundo, no entanto, a produção de uma epistemologia feminista deve estar também articulada as possibilidades de construção de uma militância comprometida com a libertação das meninas e mulheres já que o patriarcado é um projeto político coeso.

      Nossos passos vêm de longe!
      Um abraço.

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  2. Muita grata pelas considerações, professora! Sem dúvida somos fruto de uma história comum de luta de mulheres, diversas e plurais. E como diz um prof que conheço: o futuro será mulher, ou não haverá! Vejo uma geração jovem, na qual não me incluo até mesmo pela idade (rsrs), apropriar-se desse passado de diversas formas, nas academias, nos movimentos de mulheres, através das novas tecnologias ou da velha televisão, "aprendendo" com a grande mídia algumas noções... Quando penso em termos de "consciência feminista", no Brasil, percebo que já estivemos mais longe. E vamos à luta!
    Um abraço e saudações feministas!

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    1. Andréia, concordo com você. De fato, uma das maiores tarefas e desafios do feminismo é saber incorporar o aspecto geracional, isto é, construir um movimento de mulheres que dialogue tanto com a juventude quanto com a maturidade. A troca de experiências e o diálogo profundo são uma das chaves para compartilharmos conhecimentos e construirmos uma sororidade política com as outras.

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  3. Aliás, a Youtuber mais seguida hoje no Brasil, com mais de um milhão e meio de seguidores, é feminista: Jout Jout (ou Júlia). Como influência digital, o trabalho dela tem tido um impacto que considero muito positivo. Os movimentos também apresentaram grande articulação em 2015 e no momento atual. Estamos caminhando!

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  5. Boa noite, Profª Jeane Melo.
    Parabéns pela comunicação. No texto a Sra. apontou a importância de problematizar em sala de aula, o papel das mulheres como sujeitos históricos. Além disso, enfatizou a necessidade de lutarmos contra o machismo nos espaços de poder e na produção do conhecimento. Lendo suas sugestões de atividades em sala de aula, que por sinal são excelentes, me pareceu que a Sra. trabalha com a categoria de gênero, segundo Joan Scott. É isso mesmo? Obrigada pela atenção.
    Um forte abraço. Saudações feministas!

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    1. Boa noite e obrigada pelas considerações! Sim, uma das minhas leituras sobre gênero é a Joan Scott, que empoderou o termo gênero como eixo explicativo das relações sociais entre homens e mulheres na história. Mas sempre tomo cuidado para que a categoria "mulher" possua visibilidade e não seja diluída no gênero - isso a partir de uma ótica materialista. Dito isto, também considero urgente que o ensino de História possa ensejar também reflexões sobre a desconstrução das masculinidades - porque sem essa interlocução não avançaremos na mudança dos papéis sociais sexuados e hierárquicos. Um forte abraço! Jeane Melo

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  6. Bom dia Prof.ª Jeane. O artigo veio de encontro à minha pesquisa e resumiu bem uma das problemáticas no ensino de História. A História das mulheres é pouco abordada pela maioria dos docentes, que percebo ainda se prenderem à um currículo antigo que não se preocupou com essa temática em função da sociedade machista e patriarcal. No ensino superior já estamos trabalhando com a oferta de disciplinas eletivas dentro da carga horária obrigatória de humanidades que tratam de direitos e movimentos sociais de gênero para todas as áreas (humanas, exatas e outras ciências). O passo dado é curto mas representa um deslocamento no sentido de avançar .

    Leandra Paulista de Carvalho

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    1. Obrigada pelo interesse e pelas contribuições! Leandra, é impressionante o quanto nossos pares tendem a se eximir quando apontamos a história como uma narrativa universal masculina e falocentrada. Promover esse deslocamento para uma escrita da história renovada tanto em teoria quanto em método, implica em tocar nas relações de poder que perpassam a academia. Infelizmente são poucos os colegas dispostos a construirem uma autocrítica política e epistemológica em favor das mulheres. Mas continuamos em marcha!

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  7. Bom dia professora Jeane! Excelente texto!
    Tenho pesquisado as questões pertinentes a invisibilidade das mulheres na escrita da História bem como suas representações em diferentes suportes midiáticos desde revistas femininas do século XX até livros didáticos. Diante de estudos como de Del Priore (2001) que mostram a História das mulheres desde o período colonial até os dias atuais e pensando no que você propõe dentro do seu artigo de práticas escolares e educativas que visam desconstruir os esteriótipos em torno das mulheres e afirmação das mesmas como sujeitos históricos, tenho pensado que isso começa pela nossa formação enquanto professores, como você percebe isso no Brasil? Como essas questões estão presentes na formação dos educadores para que os mesmos possam realizar essa desconstrução que você propõe como possibilidades no artigo?

    Amanda Pereira de Lima

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    1. Obrigada pela observação pertinente, Amanda. A formação de educadores, tanto a inicial quanto a continuada ainda deixa muito a desejar no que se refere à um trabalho reflexivo e problematizador a respeito das relações de gênero. Eu penso que precisamos articular ações políticas e exigir da própria estrutura educacional que ela comece a se mudar a partir de nossas demandas. Exemplo: denunciar um livro didático que traga imagens e mensagens sexistas;cobrar dos e das docentes que incluam mulheres em suas ementas de disciplinas; inclusão no calendário de datas políticas em que seja possível abordar de modo pluralidade a história das mulheres; exigir que haja uma forte discussão sobre assédio e cultura do estupro de modo a fazer com que alunos e professores percebam o quanto estamos inseridos em um cotidiano de normalizacão da violência simbólica. Enfim Amanda, penso que uma das nossas armas dentro das instituições é chamar o conflito e por o dedo na ferida. Nossa postura tanto militante quanto epistemológica tem que ser de gritar e fazer a denúncia, sempre. Abraços!!!

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  8. Bom dia professora Jeane! Excelente texto!
    Tenho pesquisado as questões pertinentes a invisibilidade das mulheres na escrita da História bem como suas representações em diferentes suportes midiáticos desde revistas femininas do século XX até livros didáticos. Diante de estudos como de Del Priore (2001) que mostram a História das mulheres desde o período colonial até os dias atuais e pensando no que você propõe dentro do seu artigo de práticas escolares e educativas que visam desconstruir os esteriótipos em torno das mulheres e afirmação das mesmas como sujeitos históricos, tenho pensado que isso começa pela nossa formação enquanto professores, como você percebe isso no Brasil? Como essas questões estão presentes na formação dos educadores para que os mesmos possam realizar essa desconstrução que você propõe como possibilidades no artigo?

    Amanda Pereira de Lima

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  9. Boa noite, professora Jeane!

    O seu texto é bastante esclarecedor e dentre os tópicos que me chamaram a atenção está, principalmente, a questão da resistência que é citada tanto por parte das escolas, que tentam boicotar a realidade e muitas vezes conseguem, quanto por parte docente, que deve continuar buscando e propondo um ensino justo que mostre todos os fatores. Nesse sentido, tendo em vista as sugestões de como abordar a História das Mulheres, como estudante de licenciatura em História que é feminista e extremamente interessada e preocupada com essa temática, como posso começar a introduzi-las nessas instituições que são totalmente sistematizadas e que acostumaram os discentes em um modelo extremamente rotineiro sem quase alguma atividade diferenciada, fazendo com que esses, em sua totalidade, se interessem de alguma maneira pelo assunto a partir do que foi sugerido?

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    1. Peço desculpas, esqueci-me de assinar o meu comentário!

      Atenciosamente, Isabela Nogueira da Silva Grossi

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    2. Bom dia Isabela, tudo bem? Grata pelo seu comentário. Penso que temos e devemos exigir das instituições e do corpo docente que nos dê respostas compatíveis a construção de uma academia mais democrática. Sendo assim, é importante que cobremos a presença de mulheres na bibliografia das ementas das disciplinas. Que exijamos dos diretórios acadêmicos a discussão sobre pautas relacionadas às mulheres e que possam acolher as estudantes em casos de assédio no espaço educativo. O que a sua instituição tem feito pelas mulheres? Acho que fazer essa pergunta é fundamental pra compreendermos o nível de negligência de muitos espaços de construção de conhecimento que não são nada neutros. Espero ter ajudado! Abraços.

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  10. Bom dia, Professora Jeane!

    Primeiro gostaria de explicitar que seu texto aborda de maneira fomentadora e elucidativa uma problemática que se mantêm assídua. O espaço conquistado, por nós mulheres, é sinônimo de muita luta e persistência. Como foi colocado em pauta, estamos passando por grandes conflitos em nosso contexto político que afetam diretamente a educação. Podemos perceber a mudança na LDB, reforma do ensino médio, como principal resultante disto. A reforma institui que as ciências humanas tornam-se facultativas, levando a ausência destas para uma grande parte dos alunos e reforçando o retorno de pensamentos conservadores exorbitantes. Com base nisso, as sugestões propostas em seu texto, poderiam ser incluídas e elaboradas no plano de aula do ensino fundamental, onde existe uma totalidade de alunos?

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    2. Grata, Luciana Maria Santiago Baldoino.

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    3. Luciana, obrigada pelo interesse e retorno. Estamos vivendo nesse momento atual um grande golpe em relação às disciplinas humanisticas, que estão sendo diluídas em nome de um imenso vazio político. Mais do que nunca nos teremos que ser militares porque também diz respeito diretamente à nossa sobrevivência enquanto historiadores e historiadoras. Em relação a incorporar tais premissas críticas nas aulas de história, penso que um dos caminhos possíveis é questionar a própria narrativa dos livros didáticos junto aos alunos e alunas, de modo que eles percebam que ali prevalece uma "história dos homens". Também recomendo trabalhar com a memória e histórias de vidas com as mulheres mais velhas do círculo familiar dos discentes. A descoberta da ancestralidade bem como a percepção de suas resistências é algo enormemente político. A memória é poder e conflito, então é nossa responsabilidade também disputar essas narrativas. Abraços!

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  11. Olá professora, dentro do cenário de evidente retrocesso no campo social, como na área educacional, já supracitado,gostaria de saber como nós professoras de história, sob perspectiva da lei da mordaça, podemos contribuir para a desconstrução e empoderamento de jovens da periferia que constantemente são subjugadas a um(a) discurso/realidade de misoginia e sexista ?
    Érika Luanna da Mota Alcântara

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    1. Bom dia Erika! Uma das formas que encontrei para empoderar alunas negras e periféricas foi utilizar oficinas e rodas de conversa em que a estética afro era politizada e positivada. Falávamos de questões próximas às alunas como a solidão da mulher negra, a violência sobre os corpos negros, mas em meio a denúncias da realidade, é bom trazer também falas de mulheres negras que possam servir de modelo de luta, como Angela Davis e Marielle Franco. Abraços!

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  12. Parabéns pelo texto muito bom e necessário e com questões bastante pertinentes!

    É perceptível o quanto nós, mulheres, estamos conquistando cada vez mais espaço diante de todos os âmbitos. Mas sofremos muito ainda por sermos quase apagadas da história. Minha pergunta é, ainda que conquistamos espaços e que passemos a sermos reconhecidas nos cursos superiores, como História, isso vai refletir nos meios históricos que ocultou as fontes femininas?

    Grata,
    Beatriz da Silva Mello.

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    1. Obrigada pela indagação. Beatriz, penso que é um longo processo, mas que de mais longe já viemos porque historiadoras como Michele Perrot puseram a boca no mundo para denunciar o sexismo da epistemologia da história. O nosso papel é de aprofundar a denúncia e responder com pesquisas em que cada vez mais as fontes sejam ampliadas e interpretadas de um modo que seja possível dar voz às mulheres porque as fontes guardam em si dimensões sexuadas e de gênero. Abraços!

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  13. Querida, parabéns pelo texto. Quero agradecer e congratular pelo texto e pelas respostas que já li. Além disso quero fazer o registro que tenho estudado sobre as mulheres negras e tenho encontrado dificuldade acerca da bibliografia gostaria de saber se você teria indicações de leituras para mim.
    De já obrigada, Gianne Carline Macedo Duarte Ferreira.

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    1. Olá Gianne, obrigada pelo retorno! É parabéns pela pesquisa, afinal de contas, sabemos como é duplamente mais difícil trazer mulheres negras par ao centro do debate, não é mesmo? As próprias fontes nos lançam desafios imensos, entre silêncios, ausências e apagamentos. Em relação ao conjunto de autoras a sugerir,temos que ser interdisciplinares. Penso no nome de Leila González, Djamila Ribeiro e uma professora pesquisadora maranhense incrível, a Diomar das Graças Motta. Acredito ser oportuno fazermos o duplo movimento de reconstruir a história das mulheres negras bem como incluir na bibliografia intelectuais negras. Boa sorte na pesquisa! Abraços.

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  14. Boa Tarde professora. Estou no ultimo ano da Licenciatura e pretendo fazer minha pesquisa sobre as mulheres que foram "apagadas" da História, seja por terem seus trabalhos e descobertas usurpados por homens, seja por simplesmente não serem mencionadas, apesar de suas contribuições serem de vital importância. Pretendo delimitar essa pesquisa ao ramo da Ciência. Em vista disso, como a Sra. acha que poderíamos apresentar essas mulheres e seu trabalho para os alunos, nesses tempos de crescente discussão sobre machismo, silenciamento e avanço de conservadorismo? Grata pela oportunidade,
    Fairuce Angelica da Costa Freisleben

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    1. Parabéns pela pesquisa cujo tema considero urgente, já que historicamente as mulheres tem tido seus saberes usurpados pelos homens. O conhecimento das parteiras foi sendo aos poucos depreciado pela obstetrícia masculina e por aí vai. Os exemplos são muitos. Não são poucos os cientistas que levaram o mérito em cima de trabalhos feitos por mulheres, assistentes ou parceiros. Para introduzir o tema com os alunos, recomendo o filme do Tim Burro chamado Big Eyes, que conta a história de uma pintora brilhante que tem suas obras assinadas pelo marido que acaba ficando famoso. Penso que é uma boa forma de introduzir essa discussão entre machismo e ciência. Espero ter ajudado. Abraço!

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  15. Boa tarde, professora Jeane. Parabéns pelo texto, ótimos apontamentos. É de imensa importância que lutemos contra o machismo nas diversas esferas, especialmente na escola, mas o que fazer quando notamos uma grande resistência dentro da própria instituição? Por exemplo, diversas vezes nos deparamos com homenagens e discursos (como no dia da mulher) que acabam por ser extremamente machistas e muitas vezes problemáticas, vindos da própria instituição e não por parte dos alunos. Como resistir a essas coisas que são tão naturalizadas? Não sei se é pertinente esse meu questionamento, mas com pouca experiência na sala de aula já me deparei com estas situações desconfortáveis, e me questiono se dar o máximo dentro de sala de aula já é suficiente...

    Luany Veiga

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    1. Oi Luany, boa noite! Obrigada pelo interesse. Então, não existe outro caminho a não ser a resistência. Se for possível, sempre é bom pertencer ou buscar diálogo com coletivos feministas que possam te dar suporte e orientação nesses espaços mais conservadores. Como mulher feminista, aconselho que nunca andemos sozinhas. Dentro da instituição a qual leciono tenho desenvolvido o trabalho por meio de oficinas e rodas de conversa em que busco empoderar as alunas e problematizar acerca da socialização que nos recebemos nessa sociedade. O trabalho educativo acaba se desenvolvendo na base da conscientização/enfrentamento,o tempo todo. Abraços!

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  16. Parabéns pelo trabalho, muito bem escrito. Mas sinto que não tem como marcamos a luta feminista como "una", visto que temos uma grande diversidade de mulheres que tem feito história e também mereciam fazer parte dessa analise com as devidas atenções. Pois sabemos que estas estão em um outro patamar de (IN)visibilidade, comparando com as brancas. Sendo elas também, indígenas, negras, trans. Logo, parece que estamos caindo nas armadilhas do sistema de persona universal. Aquele modelo europeu que nos é imposto o tempo todo a todo tempo.
    Mas, mais uma vez, parabéns pelo Trabalho, mas confesso que pensei na representatividade das alunas negras (indígenas e trans se houver) que participarão dessas atividades propostas. Como deve ser para elas não perceber mulheres negras e indígenas como protagonistas desse movimento político.

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    1. Oi Luciana, tudo bem? Obrigada pelo interesse. As suas críticas são muito bem vindas porque não existe feminismo sem que se faça justiça com os marcadores de raça, classe, etnia e geração. Acredito que já acontece uma pequena e ao mesmo tempo grande revolução de mulheres negras e indígenas, que tem buscado denunciar a parcialidade do lugar de fala da ciência, supostamente "neutra": branca, heterossexual, cristã e masculina. Por em xeque esses supostos universalismos é salutar porque exige vários deslocamentos e é por aí que a gente vai se encaixando, nas brechas das relações de poder. Também considero extremamente importante que mulheres no interior do feminismo façam o movimento de revisão de seus privilégios e pensem até que ponto suas construções intelectuais levam em consideração outros sujeitos, como mulheres lésbicas, por exemplo, que geralmente são apagadas até do movimento LGBT. Do lugar que eu falo, como mulher branca, professora e nordestina tento a todo momento revisar privilégios e contribuir para o empoderamento das minhas alunas que em sua maioria são negras, periféricas e quilombolas. É sempre muito desafiador e a responsabilidade é imensa! Sigamos juntas em possibilidades e reflexões. Abraços!

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  17. Sim, isso acontece está acontecendo, na verdade sempre esteve!
    Que bom que tem assumido a responsabilidade social que nós educadores temos que assumir, porém nem todos tem a dimensão disso, que é contribuir com o processo de emancipação de nossXs jovens. Obrigada pela resposta, Abraços!

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