Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues

MANIFESTAÇÕES DE PRÁTICAS RACISTAS: O QUE MUDOU NO LIVRO DIDÁTICO?


Introdução
Neste trabalho nos propomos a discutir aspectos conceituais acerca do racismo ainda presente nos livros didáticos partindo das assertivas de alguns teóricos da área, e dos dispositivos legais que respaldam o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena. A ênfase a esses povos dá-se em razão das recentes conquistas legais em decorrência de anos de lutas e esquecimento desses povos.

Por fim, apontamos alguns caminhos para o professor no que diz respeito a sua prática docente, visando contribuir desta forma para que os conteúdos estereotipados ainda existentes nos livros didáticos, sejam descontruídos e trabalhados em sala de aula, na esperança de que os mesmos não afetem mais negativamente a história desses povos.

Dito isto, importa ressaltar que ao longo deste trabalho, será explicitado o ponto de vista de alguns autores acerca da temática da discriminação racial nos materiais didáticos existentes, objetivando contribuir para uma melhor reflexão do assunto.

O racismo no livro didático: como a cultura afro-brasileira e indígena tem sido retratada
A problemática do racismo existente nos livros didáticos não é nova, tendo em vista que diversos autores já se lançaram a contribuir com esta temática por intermédio de seus trabalhos publicados nesta área.

De acordo com Wedderburn (2005, pg. 134) há que se pensar em muitos aspectos relevantes e muitas vezes até menos evidentes no que se refere à “problemática epistemológica, metodológica e didática em relação à África”.

No que diz respeito à problemática epistemológica há de se levar em consideração o fato de que a África comporta em seu seio inúmeras singularidades africanas, dentre as quais podemos destacar as seguintes: o fato de ela ser o berço da humanidade, onde seus povos autóctones teriam sido os progenitores de todas as populações humanas do planeta; outra singularidade da África diz respeito ao continente africano ser o berço das primeiras civilizações mundiais, porém a singularidade que mais pesou negativamente sobre o continente africano, sem sombra de dúvida, foi o fato de a África ter sido alvo da escravidão racial e dos tráficos negreiros transoceânicos.

Quanto a cultura indígena, é importante destacar que a negação desse povo deu-se início com a chegada dos europeus a América e, posteriormente com as missões e aldeamentos implantados por ordens religiosas, que resolveram “salvar os selvagens” dos seus modos de vida primitivos.
Assim, o ideal de “índio” presente nos livros didáticos, conforme Freitas (2010) é que:

“[...] tratava-se de “índios” ou simplesmente “índio”. Eles viviam da caça, pesca e coleta, moravam em ocas (que juntas formavam a taba), “adoravam” Jaci, Guaraci e Tupã, orientados pelo pajé (praticante de feitiçarias) e por valente cacique. Empunhando arco, flecha, tacape e zarabatana, o cacique (ou morubixaba) poderia matar e até “cear” o seu pior inimigo. “Índios” eram, no entanto, brincalhões, “indolentes” e frágeis de saúde, diante do trabalho imposto pelos portugueses. Deixavam-se “iludir” até mesmo por pequenas bugigangas como facas e espelhinhos oferecidos pelos europeus! Isso era o que afirmavam os livros didáticos”. (Freitas, 2010, pg. 166)

Freitas (2010) aponta que esta visão estereotipada refere-se ao período anterior a década de 1970. Contudo, vejamos quão recente figura o fragmento acima destacado no imaginário de muitas pessoas na atualidade.

É necessário romper com falas tendenciosas do tipo: “indígenas não trabalham (são indolentes e ociosos)”; “indígenas não evoluíram (são primitivos)”; “indígenas não estudam (são ignorantes)” dentre outras conforme Freitas (2010, pg. 182) destaca em seu artigo A experiência indígena no ensino de história.

Visão dos autores sobre o racismo nas literaturas didáticas
Como já foi mencionado anteriormente à problemática não é recente, tendo em vista que já no ano de 1950, Dante Moreira Leite escreveu Preconceito Racial e Patriotismo em Seis Livros Didáticos Brasileiros. Onde a partir desta e de outras obras constatou-se que muitos livros didáticos apresentavam estereótipos que acabavam inferiorizando o negro, o que acabava prejudicando a construção da identidade dos alunos, em especial dos alunos negros.

No que diz respeito aos estereótipos:

“A presença dos estereótipos nos materiais pedagógicos e especificamente nos livros didáticos, pode promover a exclusão, a cristalização do outro em funções e papéis estigmatizados pela sociedade, a auto rejeição e a baixa autoestima, que dificultam a organização política do grupo estigmatizado”. (SILVA, 2005, pg. 24). 

Desse modo pode-se perceber que as manifestações de racismo encontradas nos materiais didáticos se apresentam de formas distintas, algumas vezes por intermédio de ilustrações onde o negro figura como inferior, incapaz, preguiçoso, violento, dentre outros atributos pejorativos. Enquanto o homem branco figura como superior, o mais bonito, o mais inteligente. Isso sem mencionar o fato, de que a África é alvo dos mitos raciológicos que foi construída pelos seus sucessivos conquistadores, procedendo deles a visão eurocêntrica comprovadamente racista encontrada nos livros didáticos.

O mito da democracia racial que teve Gilberto Freyre como seu principal defensor e difusor por meio da sua obra “Casa Grande e Senzala” contribui e muito para a difusão do racismo velado, onde o racismo é mascarado e se prega uma harmonia no tocante as relações raciais. Embora o mito da democracia racial tenha sido refutado nos anos 60, ainda hoje é possível perceber pessoas negando a existência do racismo.

No entanto, essa realidade começou a mudar com o surgimento do Movimento Negro na década de 1980, que assume o papel de denunciar essa prática racista, bem como de garantir o acesso aos direitos dessa parcela da população que foi tão marginalizada ao longo do tempo.

Relacionando essa luta histórica do movimento negro, é que Cavalheiro (2005), por meio de uma pesquisa desenvolvida em escolas públicas da cidade de São Paulo, aponta os seguintes resultados no que diz respeito ao material didático:

“No que tange ao material didático, constata-se que, apesar do curto tempo para a observação dessas variáveis, esse não constitui um elemento que contemple a diversidade racial presente na escola. As ilustrações presentes nesses recursos pedagógicos, embora seja possível reconhecer personagens negros, são, em sua maioria, representações de personagens brancas. Decorrente desse quadro surge outro fator, o qual se depreende do processo de entrevistas: os profissionais não percebem que a disparidade nas representações de personagens negras e brancas pode ser fonte de rebaixamento de autoestima e um facilitador para a construção de autoconceito negativo por parte das crianças negras. E, diametralmente, que pode ser fonte de construção de um sentimento de superioridade por parte das crianças brancas, pelo simples fato de terem a pele branca e fazerem parte, portanto, do grupo que constitui a maioria em ilustrações e referências culturais e históricas nesse tipo de material – o que sinaliza a referência de poder, beleza e inteligência. Por outro lado, as referências atualizadas e mais positivas para as crianças negras, encontradas em filmes, músicas, revistas, jornais e documentários, e que deveriam ser usadas nas aulas para suplementar o conteúdo dos livros didáticos e paradidáticos não foram vistas em uso durante o processo de observação, tampouco os (as) entrevistados(as) sinalizaram sua utilização. Por meio do material oferecido aos alunos, ao longo das aulas, notamos que o trabalho desenvolvido ainda está alicerçado em explicações construídas por teóricos/pesquisadores do final do século XIX e início do XX, portanto, fortemente influenciados por ideologias evolucionistas, racistas e liberal-escravistas”. (CAVALHEIRO, 2005, pg. 83).

Bittencourt (2015) aponta que o livro didático, é antes de tudo, uma mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece à evolução das técnicas de fabricação e comercialização pertencentes à lógica do mercado.

Dito de outro modo, é correto afirmar que o livro é resultado da sociedade atual, dos valores impregnados pela visão elitista dominante. Quer dizer, todo ato é intencional, em especial o livro didático tido como instrumento pedagógico.

Marcos legais na legislação brasileira
O artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) expressa que os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.  (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

Faz-se necessário mencionar aqui a Lei nº 10.639/2003, de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e cultura Afro – Brasileira e Africana. O que de certa forma contribui para a valorização da história do continente africano.

Por outro lado, a Lei nº 11.645 de fevereiro de 2008, torna obrigatório em todo o currículo escolar do ensino fundamental e médio, público e privado, o estudo da história e da cultura indígena.

Em complementação a Lei nº 10.639/2003, foram aprovados outros dispositivos legais, tais como:

Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012 CNE/CEB, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.
Resolução CNE/CP nº 1/2004, que define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, fundamentada no Parecer CNE/CP nº 3/2004;
Plano Nacional de Educação - PNE (Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014). O artigo 39 do PNE aponta que a educação escolar indígena e a educação escolar quilombola são respectivamente, oferecidas em unidades educacionais inscritas em suas terras e culturas e, para essas populações, estão assegurados direitos específicos na Constituição Federal que lhes permitem valorizar e preservar as suas culturas e reafirmar o seu pertencimento étnico. O artigo 40 explicita que o atendimento escolar às populações do campo, povos indígenas e quilombolas requer respeito às suas peculiares condições de vida e a utilização de pedagogias condizentes com as suas formas próprias de produzir conhecimentos, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a educação básica (Parecer CNE/CEB nº7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010).

Na questão indígena destacamos as seguintes legislações:

  • Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena de 1993 Portaria Interministerial (MJ e MEC) nº 559 de 1991 A Portaria nº 559/91 estabelece a criação dos Núcleos de Educação Escolar Indígena (Neis) nas Secretarias Estaduais de Educação, de caráter interinstitucional com representações de entidades indígenas e com atuação na Educação Escolar Indígena.
  • Parecer 14/99 do Conselho Nacional de Educação, de 14 de setembro de 1999. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena, expressando essa especificidade, a partir da designação Categoria Escola Indígena.
  • O Art. 1º da Resolução 03/99 do Conselho Nacional de Educação, de 10 de novembro de 1999. Estabelece “no âmbito da Educação Básica, a estrutura e o funcionamento das escolas indígenas, reconhecendo-lhes a condição de escolas com normas e ordenamento jurídico próprios e fixando as diretrizes curriculares do ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica”.
  • Resolução nº 5, de 22 de junho de 2012. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica.

É válido apontar que todas as conquistas legais ocorreram após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Historicamente o período pós-militar pode ser considerado como um processo de retomada da democracia e de avanços para o cidadão brasileiro.

No entanto, para que as leias sejam implementadas e o racismo desapareça dos livros didáticos, é necessário que a imagem veiculada nos materiais didáticos que na sua maioria tem um tom pejorativo, deixe de fazer apologia ao racismo e contribua para de fato mostrar a história do povo africano e indígena em muitos aspectos negligenciados ora pela mídia, ora pela sociedade que insiste em defender uma visão eurocêntrica de cunho racista.

O docente em questão: algumas proposições
Ana Célia da Silva (2005) em seu artigo A desconstrução da discriminação no livro didático, que está contido na obra Superando o Racismo na Escola (MUNANGA, 2005) afirma que:

“a invisibilidade e o recalque dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização dos seus atributos descritivos, através de estereótipos, conduz esse povo, na maioria das vezes, a desenvolver comportamentos de auto rejeição, resultando em rejeição e negação dos seus valores culturais e em preferência pela estética e valores culturais dos grupos sociais valorizados nas representações”. (SILVA, 2005, pg. 22)

Contudo, Silva (2005, pg. 26) também aponta algumas medidas, que podem ser adotadas pelos docentes quando estiverem em sala de aula fazendo uso dos livros didáticos que apresentarem algum cunho racista em seus conteúdos. Como a problematização desses conteúdos com os próprios alunos. Outra sugestão é mostrar e solicitar que indiquem obras de artistas, escritores, poetas, jogadores e pessoas da comunidade negros e negras, como meio de visibilizar o positivo, contrapondo-se ao estereótipo.

A autora menciona a importância de capacitar os docentes objetivando melhor prepará-los para trabalhar com essa questão dentro do ambiente escolar, desconstruindo os estereótipos criados e mantidos ao longo do tempo. Assim:

“Cabe ao professor, munido dessas e outras informações, demonstrar aos seus alunos que não existe correlação entre capacidade intelectual e cor da pele. E formar neles atitudes favoráveis às diferenças étnicas e raciais das pessoas com as quais convivem na sociedade”. (SILVA, 2005, pg. 26-27)

Freitas (2009) faz algumas observações muito pertinentes no tocante ao racismo nos livros didáticos acerca da cultura afro-brasileira:

“Vale ressaltar ainda, que não bastaria somente combater o racismo no livro didático ou excluir os materiais que veiculam tais práticas. É necessário, somar-se a esta medida a realização de um processo de inclusão da história e cultura negro-africana e afro-brasileira de forma positiva no livro didático. Afinal, alguns livros podem até não veicular imagens estereotipadas e preconceituosas em relação ao negro, mas simplesmente omitir todo o seu legado histórico e cultural. Ou seja, é preciso combater a representação distorcida da população negra no livro didático bem como a omissão deste segmento. É necessário então observar o que o discurso do livro didático vincula o que silencia, e por fim, quais as causas e consequências desse silenciamento. Pois em muitos casos o silêncio fala de forma precisa e contundente. Mais do que isso, esse silêncio pode ecoar signos de ódio e a omissão pode representar desejo de extermínio”. (FREITAS, 2009, pg. 68).

Entendemos que o professor não precisa deter-se apenas nos livros didáticos. Há uma infinidade de recursos e formas de trabalhar o ensino de história de forma a despertar o interesse e a valorização discente em relação aos povos aqui em destaque.

O MEC disponibiliza uma série de informações acerca da temática, cabendo aos interessados realizar as pesquisas. Há também o sítio que oportuniza o acesso e downloads de conteúdos audiovisuais, literatura e sugestões de leituras, fontes e recursos para o aprofundamento na temática.

Conceição (2010, pg. 146) sugere as seguintes fontes: iconográficas; orais; musicais; escritas; bibliográfica; audiovisuais e cultura imaterial. Sendo que para cada fonte, a autora apresenta sugestões de atividades e recursos além da metodologia a ser utilizada.

Além destas, outra proposta metodológica que o docente pode aplicar em sala, é a construção dos seus próprios materiais didáticos, que podem ser uma revista, um blog, materiais pedagógicos de acordo com cada turma e habilidades a serem desenvolvidas.

Portanto, alternativas viáveis não faltam ao professor e a escola de modo mais amplo. É preciso sair do comodismo, e arriscar-se no campo do diálogo.

O que mudou no livro didático?
Em outro momento afirmamos e evidenciamos que o racismo ainda existe no livro didático. Pois bem, agora surge um questionamento, o que mudou no livro didático? Será que o conteúdo, as imagens passaram por uma eventual mudança de conceitos e apresentação?

De acordo com Freitas (2010) ocorreram algumas mudanças significativas em relação a experiência indígena, pois, antes figuravam majoritariamente de forma pejorativa. Vejamos:

“Com a lenta transposição das teses dos pesquisadores para o ambiente escolar e o aperfeiçoamento do sistema estatal de avaliação do livro didático, foram ampliados e enriquecidos os espaços para a temática. Nos livros didáticos de história regional do PNLD, por exemplo, a experiência indígena ocupa aproximadamente 15% de todas as teses defendidas pelos autores. As genéricas palavras índio, silvícola e nativo são substituídas por vocábulos que expressam a diversidade e reconhecem como singulares as suas formas de organização: são agora povos, comunidades ou sociedades indígenas”. (FREITAS, p.167, 2010)

Além disso, cresceu o interesse dos estudiosos e pesquisadores pela temática, o que pode representar uma mudança de paradigmas. Atualmente é possível participar de congressos, feiras, exposições dentre outros eventos para socialização e discussão dos dados de pesquisas realizadas na área.

Contudo, Freitas (2010) é categórico ao afirmar que “conservação e mudança é o que constatamos”. Isso porque “não é difícil perceber que o status e o espaço concedidos à experiência indígena no livro didático foram bastante ampliados em relação aos anos 1980 e 1970. Mas algumas representações redutoras ainda povoam o imaginário de nós professores”.

Quer dizer, houve avanços, mas ainda temos muitos a trilhar. Faz-se necessário uma maior circulação, propagação e posterior mediação didática das pesquisas realizadas na academia. Para que o conhecimento já produzido, pode ser socializado de forma coletiva.

Considerações finais
Analisando os pontos de vista dos autores citados, compactuamos com a seguinte postura: que os materiais pedagógicos como livros didáticos são muito importantes dentro do processo educacional, no entanto outros materiais pedagógicos (como vídeos, documentários, publicações científicas) devem ser buscados como forma de ampliar a gama de conhecimentos a ser adquirida pelos educandos, bem como pelo fato de estar sempre procurando atualizações no que se refere a esses materiais.

Também é muito importante que os professores possam passar por um processo de formação onde estereótipos que colocam o negro e/ou o índio sendo inferiorizados em todos os sentidos, sejam descontruídos, e assim tais profissionais da área da educação possam estar preparados para atuar em uma educação antirracista, contribuindo para existência da pluriculturalidade.

Visto que, inconscientemente muita das vezes os próprios professores acabam contribuindo com ações racistas, quando dão tratamento desigual aos seus alunos, dando melhor tratamento aos alunos não-negros ou não-indígenas, ou mesmo quando compactuam com o silêncio frente a um ato racista praticado por seus alunos.


Referências
Ledyane Lopes é Graduanda do curso de pedagogia da Universidade federal do Oeste do Pará – UFOPA. 8º semestre. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (Histedbr-Ufopa).

Vanessa Marcelaé  Graduanda do curso de pedagogia da Universidade federal do Oeste do Pará – UFOPA. 8º semestre.

Este trabalho contou com a orientação do Professor Wilverson Rodrigo S. de Melo Docente na UFOPA, Doutorando em História Contemporânea pela Universidade de Évora (Portugal).


BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, 1996.
 _______, Ministério da Educação.  Plano Nacional de Educação. Lei nº 13.005/2014. Brasília, DF, 2014.

_______, Ministério da Educação. Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

_______, Ministério da Educação. Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11963-rceb008-12-pdf&category_slug=novembro-2012-pdf&Itemid=30192>.  Acesso em: 11 de dez. 2017.

BITTENCOURT, Circe. Livros Didáticos entre textos e Imagens In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997, p. 69-90.

CAVALLEIRO, Eliane. Discriminação racial e pluralismo nas escolas públicas da cidade de São Paulo. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03 / Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

CONCEIÇÃO, Maria Telvira da. O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afro-brasileira no ensino de história. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. (Coleção Explorando o Ensino; v. 21).

FREITAS, Itamar. A experiência indígena no ensino de história. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. (Coleção Explorando o Ensino; v. 21).

FREITAS, Ivana Silva. Bases teóricas para a compreensão do racismo nas literaturas presentes no livro didático. In: A cor da metáfora: o racismo no livro didático de Língua Portuguesa. João Pessoa: [s.n.], 2009.203p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 3. Ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1991. 270 p.

SILVA, Ana Célia da. A desconstrução da discriminação no livro didático. MUNANGA, Kabengele (Org). Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. 204p.: il.

WEDDERBURN, Carlos Moore. Novas bases para o ensino da história da África no Brasil. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03/ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

12 comentários:

  1. Ao falar de livro didático afirmas sobre um ato assumidamente projetado, obvio por uma pequena parcela aqueles que elaboram os livros, como justificar isto, uma vez que a ausência de pesquisadores na área de África não participam desse processo, ou simplesmente o corpo docente se sente incapacitado por tratar de conteúdos que não conhecem ou ainda requer uma imersão para conhecer tais conteúdos? Jêibel Márcio Pires Carvalho

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    1. Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues11 de abril de 2018 às 12:45

      Caro Jêibel, agradecemos seus apontamentos e a possibilidade de dialogar com você.

      Ratificamos o posicionamento de Bittencourt (2015) quando aponta que o livro didático é, antes de tudo, uma mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece a lógica do mercado. Como mercadoria ele sofre interferências variadas em seu processo de fabricação e comercialização. Em sua construção interferem vários personagens, iniciando pela figura do editor, passando pelo autor e pelos técnicos especializados dos processos gráficos, como programadores visuais, ilustradores.

      De modo, que o livro didático pode ser considerado a partir de três perspectivas distintas, a saber: 1. Como depositário dos conteúdos escolares. Onde o livro didático realiza uma transposição do saber acadêmico para o saber escolar no processo de explicitação curricular. 2. Como um instrumento pedagógico. Nesse aspecto, elabora as estruturas e as condições do ensino para o professor, sendo inclusive comum existirem os “livros do professor” ou do “mestre”. 3. Como veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura.

      No tocante a participação docente ou mesmo de pesquisadores especialistas no processo, entendemos que embora não haja uma participação direta desses sujeitos no processo de fabricação do livro didático, é mister destacar que “os usos que professores e alunos fazem do livro didático são variados e podem transformar esse veículo ideológico e fonte de lucro das editoras em instrumento de trabalho mais eficiente e adequado às necessidades de um ensino autônomo (BITTENCOURT, 2015, pg.73).

      É bem verdade que o desconhecimento acerca da temática discutida neste trabalho pode ser fonte de insegurança no que se refere a abordagem docente no espaço da sala de aula.

      Contudo, reiteramos nosso posicionamento de que é necessário aventurar-se no campo do diálogo, com vistas estabelecer práticas de ensino pautadas no respeito à pluralidade!

      Esperamos ter sanado seus questionamentos!

      Att.
      Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues.

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  2. Olá, Ledyane e Vanessa! Parabéns pelo excelente texto!

    Gosto muito de trabalhar com e estudar as metodologias ativas, especialmente aquelas que são voltadas para o processo de ensino-aprendizagem em história. Vocês concordam que seriam as metodologias ativas um encaminhamento importante para deixar professor e alunos mais ativos e menos dependentes dos LDs em sua rotina escolar? Se sim, quais são, para vocês, as MAs mais aplicáveis à disciplina de história e que contribuem para a quebra de estereótipos com as minorias sociais (negros, mulheres, indígenas...), ainda tão presente nos LDs?

    Att.,
    Fábio Alexandre da Silva

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    1. Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues11 de abril de 2018 às 12:34

      Olá Fábio Alexandre! Nós que agradecemos a oportunidade de discutir aspectos do trabalho em questão!

      Como estudantes do curso de pedagogia e em fase de conclusão, advertimos quanto ao conhecimento raso que possuímos acerca das metodologias ativas, porém, nos colocamos em condição de aprendizagem mútua com você caro Fábio.

      Contudo, com base em leituras preliminares e em vivências na academia, onde o discente assume o papel de protagonista do seu processo de aprendizagem, saindo do formato tradicional em que o aluno figura como ser passivo.

      Nessa perspectiva, acreditamos sim que as metodologias ativas possam ser uma importante estratégia para tornar as aulas mais dinâmicas, atrativas e eficazes, e, ainda auxiliar na quebra de paradigmas e estereótipos ainda presente no livro didático, por meio do exercício da reflexão crítica.

      Apesar de nossa pouca experiência docente, sugerimos as seguintes metodologias ativas referentes ao ensino de história: discussões em grupo, estudos de casos, aprendizagem em pares. Sendo que a técnica da sala de aula invertida (flipped classroom) talvez seja a mais indicada, o que exige um processo de autonomia do educando, já que o processo de pesquisa e leitura individual e/ou coletiva é realizada como uma tarefa de casa, ficando destinada o espaço da sala de aula para rodas de rodas, debates, reflexões e exploração acerca da temática proposta.

      De acordo com Morán (2015, pg. 19), nas metodologias ativas de aprendizagem, o aprendizado se dá a partir de problemas e situações reais, os mesmos que os alunos vivenciarão depois na vida profissional, de forma antecipada, durante o curso.

      Assim, é interessante alterar o modelo disciplinar por modelos mais centrados em aprender ativamente com problemas, desafios relevantes, jogos, atividades e leituras combinando tempos individuais e tempos coletivos, projetos pessoais e projetos de grupo. Isso exige uma mudança de configuração do currículo, da participação dos professores, da organização das atividades didáticas, da organização dos espaços e tempos.

      Att.
      Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues.

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  3. Boa noite Ledyane e Vanessa,

    A obrigatoriedade do ensino de história de África, Culturas Afro-Brasileiras e Indígena restringi-se na prática à área das ciências humanas, sendo necessário um amplo trabalho de diálogo com as demais áreas do conhecimento, que por terem pouco ou nenhum acesso aos conhecimentos necessários, acabam por reproduzir os mesmos estereótipos que devem ser aqui combatidos. Romper a perspectiva e construir uma narrativa decolonial é ainda um processo completos de ser realizado, uma vez que a própria formação profissional pouco instrumentaliza os futuros historiadores e professores dentro dessa perspectiva. Parabéns pelo trabalho!

    Maicon Roberto Poli de Aguiar

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    1. Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues11 de abril de 2018 às 12:37

      Olá Maicon Roberto!

      De fato, a exigência legal tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, em instituições públicas e privadas.

      O que ocorre por vezes, é que há dispositivos legais para serem executados, no entanto na prática tais leis não são implementadas.

      Até mesmo a formação em nível superior possui suas fragilidades no que se refere a discussão da temática.
      Assim, concordamos plenamente com a sua assertiva Maicon, e, ratificamos a necessidade da construção e afirmação de uma narrativa decolonial.

      Também agradecemos a sua importante contribuição quanto a problematização dessa prerrogativa legal.

      Att.
      Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues.

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  4. É sabido que a população negra e indígena foram sistematicamente excluídas dos espaços instituídos de educação formal,através da expulsão dos ambientes escolares, além da negação de suas participações na sociedade brasileira, entretendo, ao meu ver, essa realidade esta sendo modificada de forma lenta e gradual através da crescente inserção de negras/negros e indígenas nos ambientes escolares e em diversos setores sociais. A afirmação colocada no artigo de que ocorreu um crescente interesse dos estudiosos/pesquisadores pela temática significa que Leis como a 10.639 e 11.645 estão surtindo efeito? Na perceptiva de vocês autoras,essas pesquisas e produções,na academia por exemplo, acabam chegando nos materiais didáticos?

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    1. Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues11 de abril de 2018 às 12:58

      Olá Patrick Machado. Desde já agradecemos suas colocações, que por sinal são muito pertinentes!

      Então Patrick, conforme você bem pontuou, há sim um crescente interesse por parte dos estudiosos/pesquisadores pela temática. E, isso, se deve em grande parte por uma mudança de paradigmas que vêm ocorrendo no cenário brasileiro desde os anos 1980.
      Lógico que as leis destacadas amparam os debates, as reflexões e o ensino da história e da cultura Afro-brasileira e indígena no âmbito escolar nos dias atuais. Porém, mais que surtir efeito, acreditamos que os dispositivos legais destacados servem de base para um cumprimento legal: o exercício da cidadania desses povos historicamente invisibilizados pela elite brasileira.

      Em nossa perspectiva, a produção realizada na academia tem chegado nos materiais didáticos sim, ainda que não haja uma massificação desse material, porque como bem sabemos há toda uma superestrutura que cerca o livro didático.

      Mas, se fizermos uma análise comparativa por exemplo, dos livros didáticos de história atualmente utilizados nas instituições de ensino, com os livros da década de 70, poderemos detectar avanços no que diz respeito a explicitação das contradições existentes na versão eurocêntrica. Ainda que alguns conservadorismos tenham sido mantidos.

      Contudo, se entendermos que materiais didáticos englobam uma gama de recursos, como: vídeos, revistas, coletâneas, artigos, materiais iconográficos dentre outros, nos surge uma inquietação: “Por que o professor em parceria com seus alunos não produz seu(s) próprio(s) material(is) didático(s)?”. Atividade esta que vai exigir pesquisa, discussão e tratamento das informações coletadas, e, vai culminar numa rica produção, além de uma aprendizagem significativa e colaborativa para a turma em questão.

      Essa estratégia foi adotada na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), no módulo de Fundamentos Teóricos e Práticos de História, ministrado pelo professor Wilverson Rodrigo. Como resultado, surgiram produções interessantes que podem ser consultadas no acervo da biblioteca da universidade.

      Esperamos ter respondido seus questionamentos Patrick.

      Att.
      Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues.

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  5. Olá. Gostaria de perguntar se foi constatado dentre o universo de professores investigado por vocês a iniciativa de propor metodologias inovadoras e inclusivas para representação do negro e dos povos indígenas nas aulas, como uma maneira de tornar-se menos dependente do livro didático, que na maioria das vezes despreza os aspectos regionais e específicos de cada realidade brasileira. e mais: foi constatado como os alunos negros ou indígenas se sentem ao verem a história de seus ancestrais sendo representada de forma tão preconceituosa? Atenciosamente,
    Valdemir Cavalcante Pinto Júnior

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  6. Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues12 de abril de 2018 às 07:10

    Olá Valdemir!

    Quanto ao seu primeiro questionamento, gostaríamos de destacar que não realizamos uma pesquisa empírica direcionada ao corpo docente. Este trabalho é de cunho bibliográfico, e, os apontamentos são oriundos de revisão de literatura.

    Dito isto, convém destacar que Cavalheiro (2005) foi quem realizou uma investigação em escolas púbicas de São Paulo, e os resultados no que diz respeito ao material didático expressavam que a diversidade racial presente na escola não estavam contempladas nesses materiais. E, mais: a pesquisa ainda apontou que os materiais que possuíam referências crianças negras, encontradas em filmes, músicas, revistas, jornais e documentários, e que deveriam ser usadas nas aulas para suplementar o conteúdo dos livros didáticos e paradidáticos não foram vistas em uso durante o processo de observação, tampouco os (as) entrevistados (as) sinalizaram sua utilização.

    Valdemir concordamos com sua assertiva quando você aponta que na maioria das vezes, o livro didático, despreza os aspectos regionais e específicos de cada realidade brasileira. Porém, entendemos que o professor assume um papel importante nesse processo, pois, conforme ressaltamos em nosso trabalho, o professor não precisa deter-se apenas nos livros didáticos. Há uma infinidade de recursos e formas de trabalhar o ensino de história de forma a despertar o interesse e a valorização discente em relação aos povos aqui em destaque.

    Quanto ao seu segundo questionamento Valdemir, Silva (2005, pg. 22) aponta que a invisibilidade e o recalque dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização dos seus atributos descritivos, através de estereótipos, conduz esse povo, na maioria das vezes, a desenvolver comportamentos de auto rejeição, resultando em rejeição e negação dos seus valores culturais e em preferência pela estética e valores culturais dos grupos sociais valorizados nas representações.

    Em outras palavras, a disparidade nas representações de personagens negras e brancas pode ser fonte de rebaixamento de autoestima e um facilitador para a construção de autoconceito negativo por parte das crianças negras.

    Valdemir agradecemos o seu interesse e suas contribuições em nosso trabalho.

    Att.
    Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues.

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  7. Bom dia!
    Como o texto aborda, as imagens e gravuras dos livros didáticos revelam formas de diferenciação de tratamento de europeus, africanos e nativos. Nessa forma europeizada, é comum estereotipar negros e índios como sub-raças ou atrasados.
    Existe uma forma de, utilizando essas próprias publicações, valorizar as conquistas dos povos indígenas e africanos e fazer conhecer as consequências da opressão daqueles mostrados como “evoluídos” nos livros didáticos?

    Ary Luiz Paes Alves

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    1. Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues13 de abril de 2018 às 13:25

      Caro Ary, essa é uma reflexão muito pertinente.

      A esse respeito entendemos que é possível sim uma abordagem docente nesse sentido. Porém, essa façanha vai exigir do docente em questão domínio da temática o suficiente para explorar as contradições presente nestas publicações, e mais que isso, ter um posicionamento crítico, porém aberto, para as possíveis questões que podem vir a surgir.

      Porque a partir do momento em que o professor ou outra pessoa assumir o desafio de problematizar os estereótipos ainda presente nestas publicações, é que será possível apontar as opressões e até as omissões (quando ocorre um silenciamento) no que concerne a história indígena e africana.

      Att.

      Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues.

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