O PATRIMÔNIO CULTURAL NEGRO NO
ENSINO DE HISTÓRIA
O
ano de 2003 trouxe uma lei específica para a valorização da cultura
afro-brasileira no ensino de História, desse modo a Lei 10.639 alterava a Lei
9.394, de 20 de dezembro de 1996, das diretrizes e bases da educação nacional,
incluindo no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira”. No primeiro parágrafo conta que: “o conteúdo programático a que se refere o caput deste
artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra
brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à
História do Brasil” (BRASIL, 2003, grifo nosso).
O caminho para sair do
tradicional ensino da “escravidão no Brasil” tem sido longo desde então, uma
vez que foram necessários cursos, acesso a publicações específicas de História
da África, pós-graduações lato e strictu sensu voltadas para a temática.
Sob esse aspecto os cursos de formação de Ensino à Distância (EaD) promovidos
pelos Comitês de Formação Continuada da Educação Básica, ocorridos entre 2014 e
2018, têm sido mais um incremento nessa jornada. Mais do que estar em sala de
aula para ensinar sobre navios negreiros, o trabalho nas lavouras, os castigos,
as fugas e os escravos de ganho, temas advindos do pós-abolição, bem como o
olhar do tempo presente sobre a presença negra na formação da cultura de
distintas geografias têm enriquecido os estudos.
Alguns resultados de
pesquisas internacionais têm contribuído para alavancar as pesquisas em
território brasileiro, são eles: a “Sistematización
del Patrimonio Cultural Inmaterial de Afrodescendientes en América Latina” (2011) publicada pela UNESCO/CRESPIAL sob a
direção de Luis Rocca Torres; a publicação da UNESCO
intitulada “Sitios de Memoria y culturas vivas de
los afrodescendentes en Argentina, Paraguay y Uruguay” (2012); o livreto “Cantos y Música
Afrodescendentes de América Latina” (2012) do qual o Brasil, sob a
representação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), apresenta o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e o Tambor de Crioula do
Maranhão e a publicação “Salvaguardia del patrimônio cultural
inmaterial de los afrodescendentes en América Latina” (2013) da UNESCO, CRESPIAL e CONACULTA
com dois volumes.
No panorama das recentes produções historiográficas no Brasil sobre o patrimônio cultura afro-brasileiro destacam-se os
trabalhos: a monografia “O ‘lápis
cor-de-pele’: a construção de identidades raciais nas práticas escolares”
(2014) de Camila Oliveira Alves Boucinha, na qual trata de como as crianças
constroem o conceito de identidade racial partindo dos Estudos Culturais em
Educação, relacionando as identidades culturais vivenciadas na escola e aquelas
produzidas pela sociedade globalizada; o artigo “O patrimônio cultural afro-brasileiro: São José, um estudo de caso” de autoria dos pesquisadores Joana Célia dos
Passos, Tânia Tomázia do Nascimento e João Carlos Nogueira, publicado na revista Estudos Históricos
(2016) que analisa como e o que tem sido considerado pelo poder público bem
patrimonial da população afro-brasileira em um município catarinense; o livro “As relações étnico-raciais na sala de aula:
propostas pedagógicas” (2016) organizado
pelos professores Zoraia
Aguiar Bittencourt e Fábio Feltrin de Souza, terceiro
volume da “Coleção Educação para as Relações Étnico-Raciais” busca desenvolver
uma prática investigativa sobre os diferentes problemas da realidade para
intervir de maneira mais qualificada na superação de históricos processos de
exclusão material e simbólica, sendo uma obra escrita por professores para
professores; o livro “A história da
educação dos negros no Brasil” (2016) organizado pelos professores Marcus
Vinícius Fonseca e Surya Aaronovich Pombo de Barros e o Repertório Bibliográfico sobre a Condição do Negro no Brasil (2017) produzido sob os auspícios da
Câmara dos Deputados em Brasília que traz dados sobre a construção da
consciência negra no país.
Todo
esse material, disponibilizado em PDF, online gratuitamente, têm se tornado uma
importante fonte de atualização dos conhecimentos sobre o tema, incentivando
pesquisas locais que se articulem aos contextos nacional e latino-americano. E
foi assim que surgiu, como uma atividade de pesquisa realizada no interior da
Monitoria da disciplina de História e Patrimônio Cultural do Departamento de
História da Universidade Federal de Sergipe (DHI-UFS), o projeto “O Patrimônio
Cultural Negro em Sergipe”. A inspiração nas leituras, bem como questionamentos
a respeito dos escassos trabalhos sobre os espaços materiais e imateriais do
patrimônio cultural negro em Sergipe (à exceção do município de Laranjeiras,
onde a cultura popular dos brincantes de grupos de dança e canto tradicionais e
a historicidade do quilombo da Mussuca recebem atenção), uma vez que o estado
tem construído sua historiografia à partir de uma genealogia branca,
patriarcal, com poder político e econômico que têm reverberado inclusive nas
obras clássicas do Instituto Histórico e Geográfico Sergipano (IHGSE).
O
silencio do negro em Sergipe ocorre até mesmo no Departamento de História da
UFS, onde a emblemática figura da historiadora negra e sergipana Beatriz
Nascimento não é reconhecida nem por professores e nem por alunos da graduação
e pós-graduação. Pesquisadora, poeta e atuante no
Movimento Negro Unificado (MNU) e no Feminismo Negro, Beatriz foi assassinada
em 1995 (aos 52 anos), por amparar uma amiga que era agredida. Ocultada em sua
terra natal, em dezembro de 2016, a Biblioteca do Arquivo Nacional, no Rio de
Janeiro, recebeu o nome de Maria Beatriz Nascimento, por meio de uma votação online na qual Beatriz recebeu 84% dos
914 votos.
Uma
importante contribuição de Beatriz Nascimento para a historiografia brasileira
está contida no livro “Negro e Cultura no
Brasil. Pequena Enciclopédia da Cultura Brasileira” (1987) organizado por
ela com os pesquisadores Helena Theodoro Lopes e José Jorge Siqueira, trazendo
reflexões sobre a dimensão histórico-sociológica do negro, uma introdução ao
conceito de quilombo, as religiões negras brasileiras, a estética negra, a
música de negros, o negro na literatura, o negro na vida familiar brasileira e
as expressões da cultura negra na vida brasileira.
Ressalta-se
que Sergipe possui o primeiro Museu Afro-Brasileiro, inaugurado em 1976 em
Laranjeiras, antes mesmo do Museu Afro-Brasileiro de Salvador (MAFRO-UFBA),
entretanto, sua expografia ainda é um território contestado pela origem de seu
acervo e sua inspiração fundada no discurso da escravidão (com destaque para os
acervos de Engenhos de açúcar e artefatos de tortura). Embora tenha modificado
bastante sua narrativa de 2009 até agora, quase dez anos depois, ainda sofre o
peso do pai fundador: o intelectual, jornalista, “memorialista”, Luiz Antônio
Barreto, muito celebrado pelo IHGSE.
Desse
modo, os objetivos que norteiam o projeto “O patrimônio cultural negro em
Sergipe” são: 1) pesquisar os espaços urbanos de ocupação e identidade negra
nos municípios sergipanos; 2) coletar imagens e falas da população negra
residente nos municípios sergipanos que remontem à escrita colaborativa de sua
própria história; 3) criar cartilhas digitais dos patrimônios culturais
materiais e imateriais negros em Sergipe que sirvam de apoio pedagógico nas
escolas de ensino fundamental.
O
projeto adotou como seu lugar de origem a capital Aracaju como ponto de
partida, uma vez que nela estão localizadas importantes instituições de guarda
documental como o IHGSE e nele o Museu Galdino Bicho e a Pinacoteca Jordão de
Oliveira, o Arquivo Público de Sergipe (APES), o Arquivo do Poder Judiciário do
Estado de Sergipe (APJSE), o Museu da Gente Sergipana, o Centro Cultural Cidade
de Aracaju, a Galeria de Arte Álvaro Santos (GAAS), além da Biblioteca Pública
Estadual Epifânio Dória e da Casa do IPHAN/8ª Superintendência. Mas embora
pesquisas sejam realizadas nas hemerotecas e acervos textuais e
tridimensionais, observou-se um registro muito insuficiente da cultura negra
como protagonista nos relatos sergipanos. Há uma invisibilidade do negro
enquanto “demanda social, econômica, cultural e política”, enquanto ser humano,
pois sua presença está muito mais configurada pelo folclore, arte, destituído
de um “lugar de fala” próprio, uma vez que é sempre interpretado por
intelectuais em sua maioria brancos.
Até
mesmo entre as estátuas em bronze que ornam a orla da praia de Atalaia, dentre
os fundadores da nação não há uma representatividade negra e diante da demanda
dessa população, foi instalada a estátua de Zumbi dos Palmares, uma
representação alagoana, mantendo nas sombras a representação de Mulungu, o
escravo rebelde sergipano (DOMINGUES, 2015).
Verificou-se,
portanto, que são os espaços das ruas, das vielas, das praças, dos mercados, de
bairros periféricos e das proximidades do centro de Aracaju que contêm o
patrimônio cultural negro não oficializado: dos vendedores de ervas, das
trançadeiras de cabelo afro, dos grafites, do hip hop, da capoeira, do teatro
negro, da vendedora de acarajé, dentre outros. Espaços invisíveis para a
maioria da população que por eles transitam, espaços do cotidiano da população
negra que nele constrói sua identidade negra móvel, plástica, resistente. Além
dos lugares, o foco também se direcionou para as pessoas que constituem um
“patrimônio vivo” não-oficial de luta, persistência e manutenção das tradições.
Figura 1: Quilombo Urbano da Maloca,
Aracaju (SE)
Fonte:
Acervo Hiago Feitosa, 2017
Sob
esse aspecto, tem se utilizado como procedimentos metodológicos: além do
recurso às leituras historiográficas e documentais, a pesquisa de campo
(etnografia de percurso) e os testemunhos orais.
Tabela 1: Roteiro do Patrimônio Cultural
Negro em Aracaju (SE)
Espaço
|
Patrimônio Cultural
|
Informações
|
Museu
Galdino Bicho no IHGSE
|
Atabaques
Run, Rmpi e Lê
|
Doados
em 1946 por um policial (provavelmente oriundo das quebras dos terreiros); em
péssimo estado de conservação.
|
Bairro
Cirurgia
|
Travessa
Antonina
|
Placa
com nome de uma importante moradora negra; em estado de degradação
|
Comunidade
da Maloca
|
Quilombo
Urbano
|
Comunidade
negra com palco para festas, expressões e cultura negra
|
Barraca
de Acaraje
|
Nara
Machado
|
Localizada
atrás do palco da Comunidade Maloca
|
Casa
salão de Gilmária Nunes
|
Tranças
afro
|
Localizada
atrás do palco da Comunidade Maloca. Trançadeira há 11 anos.
|
Mercado
Público
|
Banca
das Ervas
|
Anderson
Alves Batista é o líder local, cuidador da saúde física e espiritual e uma
espécie de griot.
|
Bocasecas e 14K
|
Rap
|
Música negra como forma de
conscientização política, cultural e identitária
|
Terminais
rodoviários
|
Grafites
negros
|
Artistas:
Lee 27 e Dalvam Dext.
|
Fonte:
Elaboração própria a partir da pesquisa de campo, 2017-2018
A
pesquisa realizada até o momento tornou visível como espaços e personalidades
de referência negra sujeitos de pesquisa que antes, quando tratados pela
academia, ocupavam os estudos de Antropologia ou Sociologia, mantendo-se
obscuros em sua historicidade.
Figura 2: Dona Nara do Acarajé, Aracaju (SE)
Fonte:
Acervo Hiago Feitosa, 2017
Por
isso, a Cartilha Digital do Patrimônio Negro em Sergipe tem como premissa
fundamental, a localização da topografia negra e seus protagonistas, bem como a
elaboração de verbetes colaborativos, comentados por intelectuais, artistas,
residentes negros que se interessem em dar a sua voz à sua trajetória e
ocupação urbana.
Figura 3: Bocaseca, Aracaju (SE)
A
partir dos relatos e imagens será possível trabalhar o patrimônio cultural
negro sergipano como um território em construção, no qual as crianças negras
das escolas podem se encontrar e se identificar, posto que começam a ser matéria
escolar, pesquisa acadêmica e visibilidade de fala e rosto daqueles que há
muito foram mantidos no esquecimento.
Figura 4: Grafite em Aracaju (SE)
Fonte:
Acervo Hiago Feitosa, 2017
Há
muito que o patrimônio cultural deixou de ser um elemento reconhecido de cima
para baixo, instituído pelo poder público sem o parecer de suas comunidades.
Desde 2003, com a Carta Patrimonial que reconheceu o patrimônio imaterial e com
ele vários símbolos negros (rituais religiosos, modos de fazer de comidas e
artesanato), bem como com o fortalecimento dos movimentos de afirmação da
cultura e identidade negra no país nos últimos 12 anos, a compreensão de que a
população negra tem suas próprias demandas e deve ser alçada aos postos
decisórios quando se trata de contar sua história tem sido uma busca constante.
O ensino de História não pode se furtar a isso, principalmente se quiser fazer
da Lei 10.639 uma realidade concreta de construção coletiva e consciente do
conhecimento sobre a História Negra no Brasil, para além da escravidão, com
suas músicas, danças e lutas do passado ao presente.
Referências
Janaina
Cardoso de Mello é professora Adjunta do Departamento de História da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Mestrado em Ensino de História (ProfHistória-UFS).
Hiago
Feitosa da Silva é graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
(UFS) e Monitor da disciplina de História e Patrimônio Cultural com bolsa
Prograd-UFS.
BITTENCOURT,
Zoraia Aguiar; SOUZA, Fábio Feltrin de (Organizadores). As relações
étnico-raciais na sala de aula: propostas pedagógicas. Tubarão, SC: Copiart; [Erechim,
RS]: UFFS, 2016.
BOUCINHA,
Camila Oliveira Alves. O ‘lápis cor-de-pele’: a construção de identidades raciais
nas práticas escolares. Monografia de Pedagogia. Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014.
BRASIL.
Lei n° 10.639, de 9 de Janeiro de 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm, acesso em: 20/02/2018.
CAVALCANTE,
Raphael, ESTRÊLA, Clarissa (Coord.) Repertório
bibliográfico sobre a condição do negro no Brasil. Brasília: Câmara dos
Deputados, Edições Câmara, 2017.
DOMINGUES,
Petrônio. João Mulungu: a invenção de um herói afro-brasileiro in: História: Questões & Debates,
vol.63, n°2. Paraná: Editora UFPR, 2015.
FONSECA;
Marcus Vinícius; BARROS, Surya Aaronovich Pombo de (Orgs.). A história da educação dos negros no Brasil.
Niterói: EdUFF, 2016.
LOPES,
Helena Theodoro; SIQUEIRA, José Jorge; NASCIMENTO, Maria Beatriz. Negro e Cultura no Brasil. Pequena
Enciclopédia da Cultura Brasileira. S/l: Ed. Unibrade/ Unesco, 1987
PASSOS, Joana Célia dos; NASCIMENTO,
Tânia Tomázia do; NOGUEIRA, João Carlos. O patrimônio cultural afro-brasileiro: São José, um
estudo de caso in:
Estudos Históricos. Rio de
Janeiro, vol. 29, no 57, p. 195-214, janeiro-abril 2016.
TORRES,
Luis Rocca (Dir.) Sistematización del Patrimonio
Cultural Inmaterial de Afrodescendientes en América Latina. S/l: UNESCO/CRESPIAL, 2011.
UNESCO.
Sitios de Memoria y culturas vivas de los afrodescendentes en
Argentina, Paraguay y Uruguay. Vol 1. Montevideo:
Ed. Mercosur, 2012.
UNESCO/CRESPIAL.
Cantos y Música Afrodescendentes de América Latina. Colômbia: Radio Televisión Nacional de Colombia/CRESPIAL,
2012.
UNESCO/CRESPIAL/CONACULTA.
Salvaguardia del
patrimônio cultural inmaterial de los afrodescendentes en América Latina.
Vol. 1. México: Dirección General de Culturas
Populares/CRESPIAL, 2013.
UNESCO/CRESPIAL/CONACULTA.
Salvaguardia del patrimônio cultural
inmaterial de los afrodescendentes en América Latina. Vol. 2. México: Dirección
General de Culturas Populares/CRESPIAL, 2013.
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ResponderExcluirboa noite, autores! o texto consegue levantar um discussão necessária quando enfatiza a extensa quantidade de material escolar, didático e identitário negro produzido recentemente pela e para a população afro-descendente. porem, dentro desse contexto de ampla produção ainda existem algumas resistências docentes, como foi citado o caso de professores e alunos da ufs que negligenciam figuras e contribuições negras importantes para reforço de identidade negra do Estado. Diante desse contexto ainda de resistência sobre estudos afro-brasileiros nas salas de aulas de História(no meu caso Alagoas) como resistir diante dum curriculo("prático-conformista-pedagógico-competente-emburrecedor), cargas horarias de história reduzidas,bem como salas de aula repletas de alunos/pais evangélicos-conservadores-intolerantes que não permitem os filhos trabalharem durante uma aula com os aspectos identitários negros presentes numa simples música do Edson Gomes (música: zumbi dos palmares)?
ResponderExcluirLhara Leticia de Oliveira Santos
Oi Lhara, obrigada pela pergunta. Então, conheço bem a realidade de Alagoas, afinal fui professora da UNEAL por 5 anos. O que digo é o seguinte: precisamos abordar a questão da cultura negra, do patrimônio cultural negro em todos os momentos que pudermos em sala de aula. Quando tratarmos do processo de neocolonialismo (séc. XIX) na África é um bom momento puxar para a história da cultura negra naqueles países, mostrar as línguas faladas, museus, não se limitando à história política. Também é interessante mostrar aos alunos mesmo que em fotografias, em sites via computador ou slides (se a escola possuir projetor) todos os museus com temática afro no Brasil (Sergipe, Bahia, São Paulo, Pernambuco, o museu de percurso negro de Porto Alegre-RS) e assim ir trabalhando a presença do negro dentro de instituições com fins pedagógicos, subsidiadas pelo estado. Filmes e músicas são bons exemplos, eu usei de samba à rap em sala de aula quando ministrava aulas para o ensino fundamental e médio no RJ. Procure letras e cantores/bandas com as quais os alunos de identifiquem (atualmente Carol Comká e Anitta, são bons exemplos, e a partir daí dá para puxar a discussão sobre outros cantores negros de outros estilos como Milton Nascimento, Jair Rodrigues, Alcione e outros, sua luta na sociedade brasileira por reconhecimento na cultura. Pode usar exemplos de jogadores de futebol também com certo cuidado e ainda pode trabalhar com os ocultamentos de intelectuais, artistas plásticos, enfim, personalidades negras da terra na contemporaneidade que não têm o devido valor. Grafitismo, teatro negro, dança negra, há uma pluralidade de produções. A gama é vasta, vc pode partir para várias abordagens. Trabalhando o inverso, do presente para o passado talvez vc tenha uma resposta bem melhor dos alunos.
ResponderExcluirOlá Janaina Cardoso de Mello e Hiago Feitosa da Silva, primeiramente gostaria e parabenizá-los pelo excelente trabalho e temática, infelizmente ainda encontramos muitos preconceitos a cerca do tema,os quais acabam se fortalecendo por falta de conhecimento sobre, ou mesmo, por acesso a informações erradas, como no caso da religião afro-brasileira, e mesmo com a lei para nos defender em sala de aula, ainda encontramos obstáculos. A minha pergunta é em relação a esse certa ignorância de alguns alunos em sala, quando os mesmos negam certos costumes herdados dos negros que foram trazidos ao Brasil sobre a condição de escravos, de que forma podemos abrir a mente destes alunos e seus pais.
ResponderExcluirAtt. Andréia Sznicer
Olá Andreia, tudo bom? Então existe realmente esse distanciamento de alguns alunos, muitas vezes também pelo fato de não se enxergarem nos materiais didáticos, ou da discussão ser feita de forma muito conteudista. A lei ajudou bastante mas é aquele trabalho de formiguinha, sabe? quanto mais gente pesquisando e trazendo coisas novas a respeito e em várias regiões, mais a gente vai tendo possibilidade de trabalhar a área e trazer o tema pros alunos. Dito isso, o patrimônio negro é essencial, porque é uma forma que temos de trazer uma história viva, que pode ser vista, vivenciada e que está próxima do aluno. Assim, o aluno sergipano por exemplo, vai poder ver que Sergipe está imerso em produção cultural negra, muitas vezes nas cidades e bairros, quando a gente traz esse debate a perspectiva é justamente de que os alunos possam conhecer ou visualizar com uma lente de importância histórica e social esses espaços e também que possa repensar o seu próprio espaço, ou seja, os territórios de memória negra que são de seu acesso, seu bairro, circulo familiar, grupo teatral, musical e por aí vai. Acho que a intenção é justamente aproximar os alunos e consequentemente seus pais, família e amigos né, muitas vezes o patrimônio imaterial tá do nosso lado, pessoas cheias de histórias importantes e heranças culturais, então é fundamental incentivar esse olhar.
ExcluirBoa Noite, gostaria de saber como vocês encaram o grande impasse na disciplina de história no qual os alunos (grande parte) não reconhecem o que seria um patrimônio, ainda mais sendo imaterial que é algo tão ligado (em algumas ocasiões) a temas abstratos, como vocês encaram isso, e qual a melhor maneira de se ultrapassar essa barreira, tomando como início o tratamento do PATRIMÔNIO CULTURAL NEGRO?
ResponderExcluirAtt. Policleiton Rodrigues Cardoso
OI Policleiton, muito grata por sua pergunta e seu interesse em nossa temática de pesquisa. Então, o princípio de tudo é fazer ver aos alunos que patrimônio é tudo aquilo com o qual ele se identifica enquanto cultura e história, mostrar que não são apenas lugares distantes como o Coliseu de Roma ou as ruínas de Atenas na Grécia, mas principalmente casas, praças, de seu próprio bairro. No que diz respeito ao patrimônio imaterial, trabalhamos com a culinária (que possui muita influência negra, do acarajé ao cuscuz, beiju, tapioca, feijoada, bolo de milho, doce de abóbora), com o saber fazer do artesanato em argila, madeira, ferro; com a arte urbana (grafite) e em museus. A ideia é aproximar o aluno de seu próprio patrimônio e aí ir expandindo para outros que ele ainda só conhece através de filmes e livros. Também mostramos o patrimônio vivo, ou seja, pessoas da comunidade que são guardiãs da memória ou de um saber-fazer especial para os moradores de um lugar. O patrimônio é tanto aquilo que foi reconhecido pelo IPHAN, UNESCO, como aquilo que mesmo ainda não oficializado é reconhecido e protegido pela comunidade que pode solicitar a patrimonialização daquele espaço. Com essa linha de pensamento, os alunos entendem seu papel na escolha e preservação do patrimônio de sua própria história e se reconhece também na história do mundo. Do micro ao macro.
ResponderExcluirParabéns pelo Trabalho! só gostaria de saber se vocês constroem projetos com escolas públicas do em torno para uma visita guiada, a fim de que os alunos percebam esse espaço como parte do circuito cultural da cidade?
ResponderExcluirOi Luciana, muito grata por sua pergunta. Além da pesquisa teórica e de Campo, o objetivo tem sido elaborar uma cartilha digital colaborativa com verbetes desses lugares e comentários de intelectuais, artistas, artesãos, membros da comunidade, todos negros, demarcado sua representação. A ideia é que a cartilha seja usada como recurso pedagógico pelas escolas. É a partir daí os professores das disciplinas podem percorrer o roteiro com seus alunos.
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