Cirila Regina Ferreira Serra


RACISMO, HISTÓRIA DE ÁFRICA E APLICABILIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES


Em geral, a conquista da lei 10.639/03 resulta no reconhecimento a invisibilidade africana na formação histórica do país ao longo da trajetória do sistema educacional e social. Tal reconhecimento foi fruto de lutas do movimento negro organizado e outros agentes sociais que buscavam a inclusão do Ensino de África como carga horária curricular obrigatória como forma de atenuar o problema da questão racial no Brasil.

Para além dos aspectos do problema de implementação e aplicabilidade da lei, não é demasiado lembrar a grande importância que os povos africanos tiveram no processo de construção sociocultural brasileiro, mas devido a problemática do racismo, a população constituída por pretos e pardos foram colocados a invisibilidade, sendo lembrados e associados de maneira recorrente ao passado de escravidão, e submetidos a imposição de se moldarem a um padrão de beleza totalmente contrário as origens africanas. O que torna imprescindível a aplicabilidade de uma educação antirracista.

A permanência de práticas racistas na sociedade contemporânea, segundo Hasenbalg, “trata-se de um conflito político e ideológico em torno de símbolos e significados que remetem a interpretações contraditórias da sociedade brasileira e sua história” (HASENBALG, 1992, p. 142). Contradições estas que não podem ser resumidas apenas a um legado escravista porque o Brasil criou um tipo específico de racismo que se espalhou entre os meios sociais, entre as classes, entre as pessoas, de modo que ele se reproduz cotidianamente silenciado entre pessoas que sofrem e praticam, às vezes, sem nem mesmo o perceber.

Nesta perspectiva, a lei 10.639/03 e outras são necessárias ao enfrentamento de práticas racistas. Logo, exigir a garantia do seu cumprimento significa não só uma reparação social, mas um direito à afirmação de uma identidade que é negada à população negra, a qual ao longo da história foi marcada por serem descendentes de sujeitos escravizados e não de povos tirados do seu continente de origem e submetidos ao trabalho forçado.

A lei acabou significando para muitos que lutam e sofrem com a questão racial um instrumento legal para proporcionar uma educação cuja referência histórica da população negra não fosse limitada apenas a escravidão, mas acerca da historicidade de povos do continente africano para além do olhar europeu. Como resultado de uma educação voltada para pensar a inclusão do negro a partir de um protagonismo negro, resolveria, em parte, a problemática do racismo e suas variáveis, mas para isso o ensino de história de África tem que deixar de ser um problema e se tornar algo aplicável. Hebe Mattos, ao refletir acerca da problemática do ensino de África na educação básica faz a seguinte sugestão,

“Desenvolver condições para uma abordagem da História no mesmo nível de profundidade com que se estuda a história europeia e suas influencias sobre o continente americano. (...) Incorporar, de forma vigorosa, à formação de professores do ensino fundamental, as novas pesquisas que abordam, historicamente, experiências concretas de criação e de transformação culturais e identitárias, na experiência da diáspora africana. Ao contar a história das festas populares, das vivencias religiosas de escravos e livres nas irmandades católicas ou nos terreiros de candomblé, ao discutir as transformações da capoeira ou estudar as diferenças étnicas e culturais entre os escravos africanos, bem como seus conflitos e alianças com os escravos nascidos no Brasil, entre tantos outros temas, começa-se finalmente a romper a dualidade Brasil mestiço versus pureza africana e a enfatizar uma perspectiva efetivamente plural, do ponto de vista da história cultural”. (MATTOS, 2009, p. 135).

Hélio Santos analisando a problemática recomenda que se trabalhe para a construção de uma pedagogia reversiva,

“que possa ser usada pela escola, em conjunto com a visibilidade positiva do negro e o afro-mestiço pela mídia – facilitarão ao país assumir a sua verdadeira cara. Isso significa construir um modelo novo estético-cultural que revolucione o país, pois muda a maneira do brasileiro ver a si próprio” (SANTOS, 1996, p. 119).

E, assim, se possa trabalhar a autoestima dos que não se veem representados na grande mídia, em livros didáticos, e na própria historiografia. Para que se possa amenizar no futuro o “racismo sem raça” (MBEMB, 2014, p. 19). Nessa acepção, refiro-me a Achille Mbembe, que esclarece que a categoria negro foi “inventado para significar exclusão, embrutecimento e degradação, ou seja um limite sempre conjurado e abominado”, que resultou na construção de uma raça social fundamentada na ideologia do racismo.

Em linhas gerais, os meandros que definiram e promulgaram a lei 10.630/03 não definiram a sua implementação e aplicabilidade. Embora a conquista da lei tem se constituído ao longo dos anos um grande avanço social e histórico para população de negros e negras e para própria história social do Brasil, nos últimos anos, se conseguiu muito pouco em termos de aplicabilidade, considerando que já passaram catorze anos da promulgação. O pouco se deu em virtude de muita discussão envolvendo estudos acadêmicos, secretárias, corpo docente, gestores escolares e os demais agentes educacionais.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, apresenta dimensões normativas, reguladoras de caminhos para implementação da lei 10.639/03, a partir de quatro eixos normativos: história e cultura afro-brasileira e africana, consciência política e histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direitos, ações educativas de combate ao racismo e as discriminações.

O texto salienta ainda “que tais políticas têm como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos”, e prossegue argumentando que:

“Tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Estas condições materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis para uma educação de qualidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de africanos”. (BRASIL, 2004, p. 10-11).

O passo seguinte para implementação das diretrizes se constituem em um comprometimento dos vários elos ligados ao sistema de ensino, assim como a participação do corpo docente, gestores, equipe pedagógica e demais agentes ligados a educação como secretaria, conselho e ministério.

No que tange aplicabilidade, embora o livro didático em grande parte ainda não atenda as diretrizes curriculares sugeridas a História da África, hoje é possível encontrar uma variedade de materiais muito bem produzidos (Faço referência a coleção da Unesco sobre a História Geral da África, o trabalho de Leila Leite Hernandez: África na sala de aula, o trabalho de Marina de Mello e Sousa: África e Brasil africano e uma quantidade significativa de materiais que o MEC vem produzindo como os materiais didáticos e paradidáticos para suprir essa necessidade) que atende as definições da lei. A utilização de repertórios pedagógicos, sequencias didáticas, estratégias didáticas tem se constituídos em táticas de aplicabilidade, pois tais recursos abrangem uma serie de possibilidades de aplicação desse conteúdo. Cabe ao corpo docente fazer uso de tais recursos.

As Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais, no que se refere ao Ensino de História da África tem com princípio tratar o tema a partir de uma “perspectiva positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações que atingem o continente, nos tópicos pertinentes se fará articuladamente com a história dos afrodescendentes no Brasil” (BRASIL, 2004, p. 21) a partir de temas relativos como a importância da oralidade como fonte de memória histórica, à história da ancestralidade e religiosidade africana, às civilizações e organizações e pré-coloniais, à ocupação colonial na perspectiva dos africanos, às lutas pela independência política dos países africanos, às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente africano e os da diáspora, entre outros tema.

O que se propôs aqui foi apresentar uma reflexão ainda que sucinta sobre a questão racial brasileira e a importância de se ter uma lei que ressignifique a história social e cultural da população de negros (as), assim como discutir formas de implementação e aplicabilidade para o ensino de História da África.

Embora ainda não tenha sido possível efetivar como se espera a implementação e aplicabilidade do ensino de África ao currículo escolar, tendo em vista que ainda permanecem muitas lacunas a serem preenchidas como a própria qualificação do corpo docente, já é possível trabalhar mesmo com dificuldades, a temática na sala de aula, pois cabe também aos professores/coordenadores/gestores pensar estratégias de aplicabilidade.

A lei 10.639/03 se constitui como meio legal e institucional de reparar por via da educação, anos de folclorização e silenciamento da história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares, possibilitando uma consciência histórica a jovens negros (as) e brancos(as), fazendo compreender-se como sujeitos históricos e transformadores da sociedade. Para que no futuro possam representar uma nova geração que possivelmente tornarão as relações sociais menos desiguais e o racismo menos praticável.


Referências
Cirila Regina Ferreira Serra, mestrando no Programa de Pós-Graduação de História da UEMA.


BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC/SECAD/ SEPPIR/INEP, 2004.

BRASIL, Lei Federal nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003.

HASENBALG, Carlos A. Discursos sobre a raça: pequena crônica de 1988. In: SILVA, Nelson do Valle; HASENBALG, Carlos A. Relações raciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Rio Fundo Ed., IUPERJ, 1992.

MATTOS, Hebe M. O ensino de história e a luta contra a discriminação racial no Brasil. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

MBEMB, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona, 2014.

SANTOS, Hélio. Uma visão sistemática das estratégias aplicadas contra a discriminação racial. In: Estratégias e políticas de combate à discriminação racial. São Paulo: Editora USP: Estação Ciência, 1996.



22 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir


  2. Bom dia, Cirila! Parabéns pelo seu texto! Ao refletir sobre a temática, você utiliza, por meio de citação, a ideia de "invenção do negro". Você acredita que esse estereótipo foi realmente criado ou é produto de práticas históricas autorizadas a partir de acontecimentos que trouxeram fissuras à História? De outra forma, depende de alguém?
    Agradeço!
    Ana Lourdes Queiroz da Silva

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Ana Lourdes!! Agradeço a indagação.
      Bom, a categoria negro, analisando a partir da Nova História, onde África e africanos passaram a ter visibilidade e pesquisadores africanos a ter voz e até um certo protagonismo no que se refere aos estudos voltados a temática. O termo negro deixou de ser visto como uma condição natural, isto é, passou a ser interpretado como algo construído para inferiorizar o outro, neste caso, o africano e os seus descendentes. Segundo Frantz Fanon, o problema do africano foi acreditar que ele era negro, pois ao acreditar nisso, ele estaria vestindo todos os estereótipos empregados ao termo. Embora a palavra tenha sido positivada pelos movimentos sociais negros, não devemos deixar de reconhecer que isso foi construído, positivá-lo, na minha compreensão, foi uma forma de luta, de enfrentamento político para que se reconhecesse o racismo e seus derivados, o preconceito e discriminação racial.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  3. Olá boa tarde, Parabéns Cirila pelo seu texto, achei bastante interessante, suas questões trazidas a respeito da lei 10.639/03, algo que me faz refletir é a respeito de ter passado tantos anos após essa lei e ainda não é efetivada de fato. Quanto tempo mais precisa para ocorrer essa efetivação? Por que demora tanto para efetivar? A sociedade ainda é muito racista e não valorizam a cultura do outro, isso deveria mudar, visto que o negro foi de suma importância para a formação do nosso país teve. Enfim gostei bastante do seu texto.
    Beatriz Oliveira Fontenele

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Beatriz! Agradeço as reflexões.

      De fato, não sabemos até quando a lei será apenas um direito conquistado, porém não garantido como se espera. Para além de ser um reconhecimento entre os laços existentes entre Brasil e África, não deixa de ser a idealização de um projeto político e social, ainda que permeado de desafios de toda ordem. Na medida em que se avança nas questões referentes ao ensino de história de África, percebe-se que o desejo de fazer a lei ser cumprida nas escolas públicas e privadas do país ainda é entendido por muitas daqueles que formam o espaço escolar como dispensável e de difícil aplicabilidade. Nesse sentido, ainda temos muito o que avançar, pois demanda ser também um processo maior que envolve vários setores, principalmente o político.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  4. Claudenilda Mota Carvalho11 de abril de 2018 às 13:55

    A história afrodescendente e suas contribuições na construção da sociedade brasileira é incontestável. a implementação da lei 10.639/03 pode ser entendida como uma conquista dos movimentos sociais na busca por uma sociedade menos racista. Porém, o preconceito, infelizmente ainda é uma prática corriqueira na sociedade atual. Será a falta de suporte por parte do governo o motivo pelo qual a proposta da lei não se consolida efetivamente como política nacional? de que maneira a escola pode contribuir para erradicação do preconceito racial se utilizando dos mecanismos legais?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Claudenilda, agradeço o questionamento.

      Bom, não diria somente a falta de suporte por parte do governo, temos aí um conjunto de setores que são necessários que funcionem juntos para que seja possível a implementação e aplicabilidade da lei. A escola é uma parte importante, onde idealizamos que tudo começa a partir dela, na minha opinião, de quem não é especialista em educação, mas que tem se dedicado desde a graduação a pesquisas sobre a questão racial no Brasil, é que se tem feito muito pouco para resolvermos questões como o preconceito racial no espaço escolar. Hoje o mecanismo legal que a escola tem é a própria lei 10.639/03, mas, ainda que temos a compreensão que a implementação e aplicabilidade não depende somente dela, é necessário que a escola dentro de suas possibilidades busque meios de propor essa discussão no espaço escolar.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  5. Marcelo Dario Bezerra

    Parabéns pelo texto e a escolha da temática Cirila! Acabei de fazer pós graduação em História da África e este tema histórico se mistura com a História e a sociologia brasileiras. Note-se também que todas as lutas e reivindicações dos negros quanto ao seu reconhecimento histórico e social sempre foram feitas dentro da legalidade e respeito à "democracia" que vigora em nosso país. Ma ainda falta muito tempo para que a lei 10639/03 seja aplicada de forma correta e intensiva no ambiente escolar.Ainda é aplicada de forma incipiente e em muitos casos é inexistente como pude comprovar ao realizar estágio em escolas particulares. Mas o enfoque principal de nossa história, o cerne da mesma ainda é a escravidão você não acha?

    Marcelo Dario Bezerra

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, obrigada Marcelo.

      Sim. Infelizmente. Se analisarmos o instrumento principal de uso do professor (a) – o livro didático, este ainda não favorece a história da África, dos africanos e do negro brasileiro corretamente. Como analisa o professor Josenildo Pereira (HIST/UFMA), africano, escravo e negro ainda são interpretados como sinônimos, isso no imaginário ocidental, o que avalio que a educação no Brasil ainda carrega na essência essa visão. Sei que já obtemos alguns resultados positivos, mas temos ainda muito o que corrigir. As editoras de livros didáticos sabem que agora tem que incluir a história de África, dos africanos, da população negra brasileira e dos indígenas, e ainda assim, vemos que livros são aprovados para publicação, são aprovados pelo conselho do MEC e chegam nas escolas sem contemplar os objetivos da lei adequadamente.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  7. A história afrodescendente e suas contribuições na construção da sociedade brasileira é incontestável. a implementação da lei 10.639/03 pode ser entendida como uma conquista dos movimentos sociais na busca por uma sociedade menos racista. Porém, o preconceito, infelizmente ainda é uma prática corriqueira na sociedade atual. Será a falta de suporte por parte do governo o motivo pelo qual a proposta da lei não se consolida efetivamente como política nacional? de que maneira a escola pode contribuir para erradicação do preconceito racial se utilizando dos mecanismos legais?
    Claudenilda Mota Carvalho

    ResponderExcluir
  8. Professora Cirila, agradeço antes de mais nada pelo texto que carrega ainda questões muito pertinentes para esse campo de atuação.
    Gostaria acrescentar que tenho conhecido professores de História que utilizam a História Geral da África (UNESCO) cuja coletânea já está toda disponível em pdf na sala de aula com os alunos.
    Infelizmente o ensino de História da África têm encontrado muitos problemas institucionais, sobretudo, porque não há profissionais inseridos nas instituições de ensino, muito embora tenham muitos profissionais (inclusive alguns negros) extremamente capacitados.
    Então minha primeira pergunta é o que o Estado ou a sociedade civil poderia fazer para garantir que a lei fosse cumprida e como inserir os especialistas no mercado?
    E a segunda é se a senhora acredita que possa haver uma separação entre professores negros e não-negros que inviabiliza o avanço no campo de estudos/docência no nosso país?

    Mais uma vez obrigado pelo seu texto
    Gustavo de Andrade Durão

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Gustavo, eu que agradeço as suas indagações.

      Como tenho dito, para implementação e aplicabilidade da lei tem que haver um plano coletivo, digo, os setores envolvidos trabalhando em conjunto, pois não depende somente de professores (as) ou só da escola, ou só do Estado. Quanta a profissionais qualificados isso exige que as licenciaturas sejam alteradas para formar profissionais qualificados, as especializações são importantes, contudo não são suficientes. A qualificação tem que ser mais aprofundada, cursos como História, Artes, Geografia, Filosofia, Literatura, Ciências Sociais já deveriam conter disciplinas obrigatórias contemplando a temática. Não adianta pensar direto na sala de aula, tem que haver um preparo que antecede isso.
      Quanto ao segundo questionamento, se entendi corretamente, não acho que o fato de termos ainda um número predominante de não-negros no ensino superior invalida a representatividade da temática na sala de aula, no ensino e na pesquisa. Claro que o fato de termos um número ainda pequeno de negros nas universidades já revela um outro problema que temos. Isso tudo: ensino de África, lei 10.639/03, cotas nas universidades, lei 7.716/89, Estatuto da igualdade só demostram a dimensão do problema que a população negra vem enfrentando ao longo de sua história. Foi preciso a conquista de leis para que se reduzisse alguns danos sofridos.
      Espero ter respondido.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  9. Boa tarde,cirila! Vc fou bem feliz em seus apontamentos,e abranger a questão da lei foi uma perspectiva genial ao abordar esse tema tão segregado, tão menosprezado que é a história da África e os diversos conflitos que, ainda nos dias de hoje, os negros e pardos são sujeitos por sua cor, por seus modos e costumes. É certo que, muito já se avançou, desde a chegada dos povos africanos, porém, pontos cordiais como a questão do respeito ainda tem muito a avançar. O preconceito enraizado na massa de cor clara leva a discriminação e traumas sociais aos negros. Não é raro, por exemplo, cenas de racismo nos diversos âmbitos em que um indivíduo possa estar...No Brasil, a cada minuto morre um negro, sem ter chance nem de lutar, de mostrar que só se quer respeito,só se quer amar. No Brasil, quantos negros tiveram que se adequar aos padrões? Quantos negros já foram humilhados por seus cabelos black? Por vestir branco e saia rodada? Por usar seus colares e rezarem por seus orixas? Ser negro não é motivo de ódio. Não é motivo de vergonha. Quanto sangue negro num foi derramado pra que o Brasil surgisse? ...
    Encerro minhas palavras com uma frase de um trabalho justamente sobre povos africanos, sobre meu povo:
    "Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho nos olhos, haverá guerra."

    Att,
    Ana Vitória da Silva Maciel

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Ana Vitória, obrigada por suas palavras.

      De fato, compreender o racismo perverso que divide, provoca desigualdade profunda na nossa sociedade e que adoece quem padece de mal social, é tarefa difícil. Digo, enquanto a cor da pele for pauta para definir espaços, oportunidades, certo e errado, quer dizer que temos um sério problema para resolvermos. Se existe racismo é porque tem quem o comete, essa discussão não pertence só ao negro, o branco tem que ser convidado a esse debate, quem sabe amenizamos esse mal social.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  10. Layana Márcia Carvalho Pereira13 de abril de 2018 às 09:49

    Professora Círila, gostei muito de seu texto. Sabemos que os negros não vieram por livre vontade para o Brasil e que no século XXI continua existindo muito preconceito mesmo já existindo lei. Como se pode trabalhar para reverter esse preconceito?
    Seria maravilhoso se fosse trabalhado historia racial no mesmo nível que é trabalhado a história da Europa e sua influencias sobre o continente Americano. Porque quando é trabalhado a história da Africa e suas religiões ainda se provoca um grande alvoroço?
    Layana Márcia Carvalho Pereira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Layana, agradeço as suas reflexões.

      Para revertemos o preconceito estrutural que temos no Brasil, a princípio entendemos que uma reeducação das relações étnico-raciais seria um caminho, que é exatamente o que propõem a lei 10.639/03, amparada por outras como a própria lei que puni práticas racistas como a lei 7.716/89 e a lei 12.033/09. Quanto a trabalharmos a história de África na mesma proporção que trabalhamos a história da Europa, a lei 10.639/03 propõem essa inserção. Como tenho dito, inclusive já refleti sobre isso no questionamento feito pelo Gustavo, é necessário que os cursos de licenciatura reformulem as grades curriculares. A lei foi promulgada, precisa ser cumprida e tem todo um processo que precisa ser seguido, a questão é que está havendo um atropelo nas ações quanto ao cumprimento. Quanto ao alvoroço que provoca a temática, isso tem ligação direta aos anos de silenciamento, de negação e demonização aos povos africanos e suas práticas religiosas. A educação nacional não deu protagonismo algum aos africanos nem os seus descendentes, pelo contrário, tiveram anos de negação na historiografia nacional. Não mudaremos isso facilmente, o racismo no Brasil é estrutural, é preciso fazer com que as leis que foram conquistas funcionem, agora isso depende de tantos setores.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  11. Boa noite! Excelente texto
    A pergunta que te faço é uma questão mais pessoal: pelo que tenho reparado o ensino da cultura africana e afro-brasileira acaba ficando restrita a disciplina de história, você percebe uma falta de atenção para com o tema pelas outras disciplinas?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, obrigada Hermerson pela observação.

      Sim. O ensino de África e cultura afro-brasileira não é exclusividade do campo da história, pois falar de África é também falar de literatura, geografia, filosofia, artes, sociologia, engenharia.. de matemática africana, a lei 10.639/03 determina que em especial o conteúdo seja aplicado nas “áreas de Educação Artística, de Literatura e História”, isso não as torna detentoras desse saber. Cabe os demais cursos envolver-se a temática, pois tem muito a somar também.

      Cirila Regina Ferreira Serra

      Excluir
  12. Olá Hermerson, obrigada pela observação.

    Sim. O ensino de África e cultura afro-brasileira não é exclusividade do campo da história, pois falar de África é também falar de literatura, geografia, filosofia, artes, sociologia, engenharia.. de matemática africana, a lei 10.639/03 determina que em especial o conteúdo seja aplicado nas “áreas de Educação Artística, de Literatura e História”, isso não as torna detentoras desse saber. Cabe os demais cursos envolver-se a temática, pois tem muito a somar também.

    Cirila Regina Ferreira Serra

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.